Tuesday, January 30, 2007

Quem é que manda?


...O 'poder' ou a população?

Quem tem a razão? O Juíz e os Tribunais? Ou a voz da Amália reflectida na garganta do povo?


14 de Dezembro 2006. (Exactamente 1 ano, ou 365 dias, após um assalto contra o meu carro, exactamente no mesmo local).

A polícia (a.k.a. BÓFIA!!!) passou-me uma multa de 60€ por ter o meu carro estacionado um metro (!!) ao lado de onde supostamente devia estar. Mas há dois pontos interessantes:

a) estava estacionado à porta da 'minha' Associação de Músicos (ou seja, estava a cometer uma infracção a mim mesmo);
b) durou apenas 3h (!) esta grave infracção, que acabou por se tornar a primeira desde que tenho carta (há 5 anos!!!);

Vamos ser racionais... Todos os dias se ouve falar de greves por parte das forças policiais, todos os dias se ouve nas noticias que não há armas suficientes para as autoridades, que a polícia paga a própria farda, que são uns coitadinhos... Grandes apreensões de droga, das quais alguma fica retida no seu próprio sangue e pulmões (apenas parte chega à esquadra).

E no entanto, quem é o criminoso? O 'puto' de 25 anos que infelizmente estacionou o carro mal, à porta de algo que lhe 'pertence'.

Ora bem, inconformado com toda esta curiosidade policial, dirigi-me à Divisão de Trânsito da Câmara Municipal de Faro para tentar saber de que forma possa recorrer a esta situação incrível (e apenas no nosso país!).

E não é que cheguei à conclusão que o sinal de 'Proibido Estacionar' que se encontrava à porta da dita Associação era ILEGAL? That's right... fucking unbelievable.

Estamos a falar de um sinal que nem o 'Artigo 50' tem... estamos a falar de uma ILEGALIDADE cometida por quem quer tudo LEGAL: a bófia, que faz parte do estado; faz parte daqueles filhos da puta nos quais votamos para nos 'protegerem' dos impostos e das baixas reformas e pensões.

Sócrates pode ter sido um grande filósofo mas nos tempos da Grécia também se roubava assim tanto? Eu já não sei se chamo a isto democracia ou demagogia... Hipocrisia? Não. É o pão nosso de cada dia.

A polícia a passar uma multa de 60€ ilegal, num espaço ilegal, num sinal ilegal?? Isto é legal? Em que país vivemos nós? GET THE FUCK UP AND OPEN YOUR EYES, SUCKAS!!!

Em breve terão notícias do desfecho deste episódio. É que, ao que parece, posso processar a polícia, pedir uma puta de uma indemnização e alguém arriscar-se a perder a farda. Ao que parece posso mesmo levantar aqui um 31 por me terem cadastrado com uma multa não punível aos olhos da lei. EU SÓ QUERO O QUE É MEU!

Em breve o terei.

Sunday, January 28, 2007

http://www.youtube.com/watch?v=23t_XuRgGHI

Este vídeo é dedicado a todos os que estiveram presentes numa das noites mais memoráveis da minha vida... Choro a cada segundo que oiço esta musica e leio esta letra...
Faz parte do meu egocentrismo...
Orgulho-me do que digo e do que sinto... Nunca tive vergonha de o assumir a ninguem...
Se morrer, morro orgulhoso...
Os meus amigos estiveram lá nessa noite e estarão sempre que eu recorrer a eles...
Eles sabem que eu também estarei sempre aqui...
Infelizmente não consigo ser diferente, infelizmente não consigo ser perfeito... mas sou eu...
Foi assim que me tornei e é assim que hei-de acabar... seja amanhã ou daki a 10 anos...
Obrigado àqueles que me respeitam, que me compreendem...
Obrigado àqueles que compreenderam cada pingo de suor...
Cada gota de sangue...
Cada grama de álcool...
Cada OBRIGADO...

'We could help one bit more... we should care one bit more...'

I LOVE YOU ALL...

Vocês fazem parte de mim... YOU ARE FREE!



DEVELOPING THE DISEASE
(* esta letra é para ti... sabes quem és... AMO-TE! *)


Blood running through my veins
A new virus consuming my brains
No explanation for this 'nothing-gained'
No forgiveness for this un-explanation restrained.

We, the so-called human beings, have no perfection
We belong to a rotten world where there is no selection
Only god can judge us, only he can count our days
We, a failure... We, a failure...

'CAUSE
WE ARE DEVELOPING THE DISEASE
OUR IGNORANCE, OUR CULTURE
WE THINK WE KNOW TOO MUCH
I KNOW WE'RE LOSING OUR TOUCH

'CAUSE
WE COULD HELP ONE BIT MORE
WE SHOULD CARE ONE BIT MORE
WE LOSE EVERYTIME WE FALL
EVERYTIME WE TRY TO CLIMB THE WALL...

We're buying sadness, paying with jealousy
Every single day we mention that we are free
We're free to love, free to touch, free to care
But not free to destroy someone else's dreams, it ain't fair...

No efforts have been made to live in harmony
Like this music shouldn't be played without its melody
Why can't we think of 'us', instead of thinking of ourselves?
We, a failure... We, a failure...

'CAUSE
WE ARE DEVELOPING THE DISEASE
OUR IGNORANCE, OUR CULTURE
WE THINK WE KNOW TOO MUCH
I KNOW WE'RE LOSING OUR TOUCH

'CAUSE
WE COULD HELP ONE BIT MORE
WE SHOULD CARE ONE BIT MORE
WE LOSE EVERYTIME WE FALL
EVERYTIME WE TRY TO CLIMB THE WALL...

Can't you love me as I will always do?
Can't you leave me here thinking of you?
Can't you take me to anywhere you can go?
Can't you notice that I love you so...?




Rafael 'Punk-Kecas' Rodrigues

Thursday, January 18, 2007

Espelho meu, espelho meu...


Hoje de manhã percorri a minha rota matinal habitual. Começou com o habitual destapar do cobertor e terminou comigo a olhar para o espelho e a meter gel no cabelo.

Se há coisa que odeio é cabelo, por isso por vezes sou apelidado de 'skin' (alcunha que repugno) quando passo a gillete pelo couro cabeludo. Mas, quando o tenho (o cabelo, claro!), acabo por me sentir 'inseguro'. Dessa forma, um pouco de gel para dar 'estilo' não faz mal a ninguém. O problema é mesmo a parte de me olhar ao espelho.

Ora bem...

Para onde é que nós actualmente olhamos em que não haja um reflexo? Provavelmente para o céu. A luz reflecte na parede, no chão, no tecto, na roupa, nas portas, nos vidros, nos cd's... Se olharmos para o céu só vemos mesmo o reflexo da luz da lua... é inevitável.
Se vamos 'ao mar' reflectimos a nossa sombra na água; se vamos a uma disco reflectimos as luzes roxas na roupa... Se de manhã queremos meter um pouco de gel no cabelo há que assumir o nosso reflexo no espelo da casa-de-banho. Estranho, não é? Ou não.

Mas o mal nem é o olhar para o espelho... é a obessão adjacente a esse puro acto de curiosidade que nos leva a um exagero na nossa preocupação pela forma como os outros nos vão encarar. Quantas mulheres (e homens!) não são 'lindas' à noite e horríveis de manhã? Quantas vezes não conhecemos uma babe num sábado à noite, ficamos loucos com a sua beleza, ela acaba na nossa cama e no dia seguinte quando acordamos parece que estamos no palácio do Frankenstein? (Não falo por experiência própria, obviamente..!).

Tudo isto devido a quê? À existência de espelhos; ao abuso da nossa exigência em querer causar uma boa impressão a terceiros. Uma pessoa é como é e essa beleza é que importa. Não é um baton, um gel ou um rimmel que nos vai tornar mais belos. É a beleza escondida por trás de tamanha perfeição que conta... Estou errado? Bem sabes que não.

Quantas vezes não vamos a sair à rua, olhamo-nos ao espelho e pensamos 'É meu, estas calças e esta blusa não combinam, vou mudar de roupa novamente' e lá estamos nós no quarto a pensar em todos os toques perfeitos na nossa vestimenta para sermos 'perfeitos' durante o dia e horríveis durante a noite. Não?

Ou pior, ainda pior... Quantas vezes não vemos alguém na rua diferente de nós (mas será que hoje em dia existe alguém igual a alguém... tirando os 'putos' que copiam os seus ídolos dos 'Morangos'?) e pensamos 'que freak do caralho, aquela roupa não faz sentido'? Imensas. Até aborrece. Às vezes penso 'Será que não pensam o mesmo de mim? Então porque não será agora a minha vez de me meter na pele deles, olhar para mim e também achar que isto não tem lógica nenhuma?'. Se tem para mim, é o que interessa. Se me sinto bem assim, se consigo viver dentro desta roupa... isso é o que conta. Não é como eu aguentaria em certo vestuário, muito menos como ficariam os outros com o meu... Acho que não.

E as pessoas continuam com a sua obsessão pela roupa, pela imagem...

Se um gajo é metaleiro, tem de se vestir de preto.
Se é do emo, tem de se vestir de rosa.
Se é do rasta tem de soar a arco-íris.

Eu sou eu e só quero soar a eu. Nada mais. É pedir muito?

Que mal tem eu usar collants?
Que mal tem o Milton usar t-shirts com a cor rosa?
Que mal tem o Sá-Sá ter um brinco?

Seremos nós uns fracassados da moda?

Ou seremos sim a moda? Não seremos nós os autores de uma moda que criámos para nós mesmos? Não seremos nós que decidimos que é assim que queremos ser e soar e dessa forma marcar a diferença ao não fazer algo que todo o Mundo faz, ao não seguir uma moda universal imposta pelos media constantemente? Eu respondo: somos! Eu, pelo menos, sou!

Por isso, digo:

A imagem tá dentro de nós, não somos nós que fazemos parte dela.

Monday, January 15, 2007

Aulas de substituição...?


Ou não.

15 de Janeiro de 2007.
Exactamente 11:30.

A pontualidade? Um mero acaso. Mas dão as onze badaladas e meia matinais para um descontentamento compulsivo da minha fertilidade imaginária.

A trocar mensagens num dia de trabalho com alguém. E eis que o meu comodismo de exercitar a mente me obriga a divagar momentaneamente com a virtualidade.

Aulas de substituição? Wtf?!

Qual é o seu significado? Até se compreende. Os jovens hoje em dia só querem droga e roubar. Então é uma forma de os ter a cumprir o horário, agarrados à escola. Não vá um 'furo' fazer com que acabem numa bomba de gasolina a roubar gomas ou atrás do ginásio a fumar um 'bazuko'. Certo? Temos de ter em conta que são jovens, delinquentes, marginais (mais uma vez volto a dizer que 'Antes marginais do que assassinos')... o podre da sociedade, aquilo que alguém um dia denominou de 'geração rasca'.

Eu faço parte dessa geração, a rasca. Aquela que luta pelos seus ideais, pelas suas crises existenciais, na procura de uma sabedoria adquirida pela experiência autónoma. Eu faço parte do descontentamento social de um 'puto' de 24 anos que não consegue fazer nada nem mudar um caroço, mas ao menos penso, falo e confronto. Não chega?

Sou aquele que um dia disseram que tinha jeito para jornalismo, mas não fui par a universidade. Então, sou anti-sistema.

Sou aquele que um dia quis ser músico, mas nunca desenvolvi os meus dotes.
Então, sou um zé-ninguém.

Sou aquele que um dia quis ser feliz, mas nunca encontrou felicidade.
Então, o meu nome é Rafael Rodrigues. Olá.

E aqui estou eu.

Aulas de substituição?

Hum... isso não será fazer os alunos pagarem pelos erros dos professores?
'Tá de chuva, e o Sr. Prof. Tavares acha que é uma perca de tempo molhar-se para ir dar aulas àquela turma que tem um aluno 'bué da chato' chamado João de Melo, aquele puto que só 'tá bem a fazer merda e que não há paciência. A desculpa de estar a chover é óbvia e credível. Para além do mais, as aulas de substituição garantem-lhe que eles estarão em contacto com a aprendizagem.

E os alunos, não têm aula... mas têm aula. Vão para ter matemática e acabam a ver um filme. Ridículo? Real.

Se um aluno já tem 'medo' da escola por ser uma obrigação... uma aula de substituição não vai abrir-lhe o apetite, certo? Penso eu de que.

Medo de estudar. Porque será? Eu vejo as notícias. Eu sei que se não acabar o 12º ano nem sirvo pra varredor de rua. Mas trabalho numa imobiliária. É ridículo. Eu com o 11º incompleto estou 'melhor' do que um varredor de rua com o 12º ano. Digo eu. Ou não.

Todo o dia somos confrontados com as notícias onde nos fazem crer que 'estudar significa ser alguém'.
Todo o dia somos confrontados com a famíla que nos diz 'tu és livre de ser quem quiseres na tua vida, mas vais estudar para ser advogado'.
Todo o dia somos confrontados com os amigos que nos dizem 'que merda de vida que levas, Rafael. Passas os dias inteiros metido na Associação e não vais ser ninguém na vida'.

Ok, não sou ninguém. Ou, novamente, sou o Zé-Ninguém. Na verdade sou 'alguém'. Fui eu quem traçou a minha rota, o meu destino, fui eu quem decidiu ser 'assim' e estar onde estou. Porquê? Porque não é a história dos meus antepassados que me vai fazer seguir aquilo que amo. É a minha vida que está em jogo.

Digam-me que há vida após a morte. Ok, até poderá haver. Mas não vou passar esta vida toda a estudar contrariado para ser alguém na outra. Estou errado?

Não. Eu vou aproveitar esta ao máximo e na outra logo escrevo outro blog e logo penso nessa. Não há que pensar no futuro. Não vamos estar agarrados ao passado. Vivamos o presente. Dia após dia como se do ultimo se tratasse. Todos nós sabemos disso. Todos nós o dizemos. Mas ninguém é convicto de seguir esta realidade.

Estudar até aos 25 anos. Trabalhar até aos 60. Morrer até aos 90. Rotina do ecosistema, não?
Ninguém é diferente. Seja o 'agarrado' que dá o 'xuto' diário ao meio-dia, seja o polícia que o prende. A tua vida já sabes como vai ser. Dê por onde der, agrade-te ou não. Mas a rotina agarra-te com dois braços aos quais chamo 'dever' e 'obrigação' e tu nada podes fazer, tu nem te podes esconder.

E eu aqui estou, abraçado por ela, com tanta ternura... À espera que ela me largue e me deixe ser livre.

Porque eu sei que sou.

Thursday, January 11, 2007

E era tão simples...


...e trazia consequências tão proveitosas!

Que o ser humano tornou-se demasiado comodista ninguém o nega.
Todos nós sabemos o quão fácil é atravessar a rua de carro sem exercitar as pernas.
Todos nós sabemos o quão bem não sabe estar deitado no sofá a fazer zapping enquanto gritamos 'Ó mãe, traz aqui o jantar que me aborrece ir à cozinha'.
E todos nós sabemos o quão fácil é ter 2 bolsos na camisa e dois bolsos nas calças com telemóveis, carteira, chaves de casa, do carro, etc.
Ah, e também sabemos que os carrinhos de compras servem para termos as mãos sempre 'soltas', servem para empurarrmos tão facilmente uma quantidade de peso bastante superior ao que conseguiríamos aguentar.
Ou mesmo termos no telemóvel TUDO e na net o RESTO; no telemóvel temos rádio, despertador, leitor de mp3, câmara fotográfica, internet, etc; na internet temos o que faltava no telemóvel que se traduz na possibilidade de se efectuar compras sem levantar o rabo, comunicar com pessoas, falar e visualizar por webcam, fazer apostas online, saber das noticias, ouvir musica, ver filmes, jogar jogos com quem está no outro país... É o Mundo! As pessoas 'AQUI' podem fazer TUDO sem ter de sair de casa. Mas o comodismo deixa de ser benéfico para a aprendizagem. Tu não vens à net para estudar, nem vens para fazer trabalhos de grupo... DE CERTEZA. Tu vens à net para falar com a namorada que foi estudar para Aveiro; vens à net para saber quando é que a tua banda preferida passa por Portugal ou quem marcou o golo do Benfica no Domingo passado...

O ser humano NÃO É comodista. O ser humano É consumista. E o facto de eu estar aqui a 'falar' contigo é uma prova disso. Há que ser activo. Acção directa é importante e esquecida hoje em dia. Quase se torna utopia. Há quem diga que existe apenas nos países da América do Sul. Eu digo que existe em mim e em ti.

Porque não sair à rua de megafone, um Sábado à noite, na zona dos bares e gritar palavras que poderiam mudar uma nação? Nahhh... mais vale deixar um post aqui no blog. Quem ler, leu. Das 3 pessoas que vão ler apenas 1 vai ficar a pensar nisto (sem chegar a uma conclusão), outra comenta a dize 'yah, tens toda a razão, nunca pensei nisto' (sem sequer tentar compreender) e a outra deixa um post a dizer 'que otário, nunca vi tanta burrice aqui escrita'. Ok, até poderá ser burrice, ilógico e material. Mas no fundo saiu da cabeça de mais uma alma penada que sente que ainda tem palavras para cuspir. Eu não consigo anestesiar-te e infiltrar-me na tua mente. Mas consigo SIM infiltrar-me na minha e quebrar esta cirurgia a que me submeto diariamente.

Quem não ler, não leu...

E o consumismo leva ao comodismo. O comodismo leva à ignorância experimental. Para quê levantar o cu quando podemos aquecer a cadeira?

O ser humano perdeu a vontade de aprender, a vontade de ensinar... a vontade de ler!

Ler? Só mesmo as revistas porno e o 'Código Da Vinci'. Eu próprio me incluo neste leque de gente ignorante por não querer evoluir. Onde estão as zines e fanzines dos concertos HxC? Provavelmente já é o papel reciclado onde imprimo todos os dias as letras das musicas para AN X TASY. Não? Eu sei que sim. Eu ainda tenho a minha caixa cheia de zines lá em casa. Infelizmente 'tá no estado em que estava quando deixei de as ver em shows... aí por volta de 2003 +\-. Nunca mais meti nada lá dentro.

Aprender não interessa. Não importa. Implica muito esforço mental. E ensinar muito menos. Como poderemos progredir como ser espirituais e intelectuais quando recusamos a aprendizagem constante que nos confronta dia após dia? Lembrem-se que poucos de nós passaremos dos 80 anos... e eu já tenho 24! Luto por um lugar neste mundo, por ser respeitado... mas esqueço-me de respeitar os outros... e dar lugar aos outros se exprimirem também. É necessário uma revolução interior, quebrar barreiras e conquistar um lugar no pódio da vida. O mal é todos querermos o 1º lugar e pisarmos o próximo, que também se encontra na mesma situação. O 'ser mais importante' não significa 'ser mais respeitável'. Aqui todos temos a mesma importância. Um paciente com problemas mentais tem a mesma importância que o enfermeiro que 'trata' de si. Não fosse o paciente a principal causa de existir um enfermeiro...

Mas nós sempre demos e sempre havemos de dar mais importância a quem tem o poder, a quem tem a gravata. Os jovens são os escravos dos adultos, que por seu lado escravizam os idosos. Quanto mais amena for a idade mais braços temos para abraçar os que nos rodeiam. Mas os braços que nos deram são sempre usados para empurrar, agredir, matar. Em vez de um abraço preferimos dar um tiro. E neste sentido estagnamos cultural e socialmente.

Vamos por partes.

Um 'puto' de 7 anitos de idade que vá ao café comprar pastilhas. Do lado direito tem um advogado que vai beber um café e do lado esquerdo um cigano que vai pedir um copo de água.
O empregado chega, a limpar as mãos num pano imundo e dirige-se ao advogado. 'Boa tarde, em que posso ajudar?'.
- Um cafézinho, por favor - responde o advogado.
Entretanto chega mais um casal a ler o Correio da Manhã e encosta-se ao balcão (do lado do advogado, obviamente. Gente fina não se dá com ciganos).
- Aqui está, Sr. Doutor. Deseja mais alguma coisa?
- Não, obrigado.
Virando-se de imediato para o casal que acabou de chegar: 'Boa tarde, posso ajudar?'
- Concerteza. Queriamos 1 torrada, 1 galão, 1 ice tea de pessego e 1 bolo de arroz, por favor.
- Só um momento.
Enquanto a torrada aquece chegam mais dois indivíduos. O primeiro, um amigo do empregado do balcão; o segundo, uma loira perfeita; olhos azuis, cabelo liso até aos ombros, toda pintada e produzida. E sempre com aquele toque final da mini-saia vermelha de fazer cair os olhos no chão.
O empregado, enquanto a torrada ainda se encontra a fazer, pisca o olho ao amigo e vai direito para a 'britney' que acabou de chegar: 'Boa tarde senhora, posso ser útil?'. O tom de vontade de ajudar muda consoante o destinatário. Neste caso a voz é doce e bastante singela.
- Vinha só saber se vendem tabaco.
- Infelizmente não. Mas se quiser posso-lhe indicar onde poderá encontrar aqui perto.
- Deixe estar, obrigado. Eu desenrasco-me sozinha.
- Nada, dona. Sempre às ordens. Disponha sempre que precisar.
E continua a conversa com o amigo. Vai buscar a torrada, serve o casal e continua com a conversa de macho 'Viste bem aquele pedaço? Meu, 'tava-me a desorientar. Que pernão!'.
O cigano começa a barafustar (e com razão!) por estar ali há tempos à espera. O 'puto' continua com a nota de 5€ na mão à espera que alguém repare nele.
- Vai-te embora! Temos a torneira avariada, não há água para ti.
E lá vai o cigano a reclamar consigo mesmo para a rua. E foi-lhe negado um copo de água! No nosso Planeta 97% do Mundo é constituído por água. 97%! E nós não podemos dar um copo a quem não tem possibilidades de comprar. Mas falamos em igualdade e no 25 de Abril. Sim, a revolução realmente teve cá um impacto...! A torneira avariada... mas se fosse para dar um copo de água à loiraça que acabou de sair até da garrafa de água do Luso ia. Ok, fechemos os olhos. E continuemos.
O 'puto' à espera. O casal paga e vai-se embora. E os amigos lá ficam a falar.
Até que o amigo se vai embora e o empregado fica só. Ah... afinal havia mais um cliente: 'Queres alguma coisa, menino?'.
- Pastilhas.
- E não te deram educação? Diz-me 'Pastilhas, se faz favor'.
- Pastilhas, se faz favor.
O empregado realmente é educado. Educa bem os filhos dos outros. Mas talvez fosse mais correcto preocupar-se em tratar toda a gente da mesma forma em vez de dar prioridade a quem não a tem.
- Toma! Que se diz?
- Obrigado.
- Muito bem menino, são 3€. (onde no preçário estava marcado 0,80€!).
- Tome. (O rapaz deita uma nota de 5€ toda dobrada em cima do balcão. Que culpa tem o homem? Se o 'puto' não sabe ler, e se dá pra sacar mais 1,20€, porque não??)
- Aqui está o troco. Como só tenho moedas de 10 cent, tens de meter isto tudo no bolso. (E no meio de tanta moeda de 10 cent ainda é capaz de se ter esquecido de mais 1 ou 2 na caixa registadora. Mais um pouco cobrava os 5€ pelo pacote de pastilhas!).
- Adeus!
E o café fica vazio. E vai encerrar. Esperem lá, mas esqueci-me de algo. E o advogado que estava ao lado direito do puto? Onde está ele?
Aí está. O engravatado, o respeitável Sr. Dr., saíu sem pagar. Mas alguém deu pela sua presença? Não. Nem os intervenientes na história nem mesmo vocês que aqui estavam a ler tão concentrados. Estivemos sempre fixados na torrada, na loira, no 'puto' e no cigano. E esquecemo-nos que havia mais um 'artista' no 'filme'. Ninguém deu por ele. Sai sem pagar e ninguém se lembra dos 60 cent do café. O 'bom' disto tudo é que a banhada que o empregado deu ao 'puto' serviu para pagar o café do advogado. Indirectamente, de forma passiva, o miúdo pagou um café a um advogado. Fez a boa acção do dia. Quem falhou? O honesto empregado e a sua fixação por loiras e ódio por ciganos; e o engravatado que vai bebendo cafés sem pagar ora aqui ora ali sem que ninguém dê por nada. Se fosse um cigano a pedir um café, 'Peço desculpa mas aqui é pré-pagamento'. Não?

E é assim que construímos outro ponto bastante conhecido do ser humano: a corrupção!

Aliemos então o comodismo, ao consumismo e à corrupção. O que temos?

Eu e tu.