Tuesday, July 26, 2005

Johnie (SIMBIOSE, ALBERT FISH, ANTI-CORPOS) - entrevista

- A falta de oportunidades para uma banda se expandir em Portugal


O Johnie é um daqueles raros exemplos de 'sucesso' em Portugal. Dizia o mesmo dos FTG mas o Johnie ainda consegue ser mais, sem dar tanto nas vistas. Depois de tudo o que fez com bandas como LOV DA XIT e ZOOTIC, aparece agora em SIMBIOSE e ALBERT FISH e não pára... Com a Anti-Corpos já editou 'grandes' bandas como GAROTOS PODRES, ACROMANÍACOS e SKAPARAPID e tudo indica que nem tão cedo vai ceder.
Aqui fica o contacto que tive oportunidade de estabelecer com ele esta tarde, foi bastante interessante e curioso.



1- João, desde que te conheço que te vi envolvido em projectos bastante interessantes no panorama hardcore nacional: Zootic, Lov da Xit, Albert Fish, Simbiose, Anti-Corpos, etc... Fala-me lá um pouco da tua vida actual e dos projectos pelos quais já passaste...

Sim, ao longo dos anos passei e ainda faço parte de alguns projectos! Podemos começar pelos quais faço parte actualmente: Simbiose, Albert Fish e AntiCorpos. Neste momento estou envolvido nestes 3 projectos, cada um distinto do outro, mas com a mesma forma de encarar a realidade! Sobre os projectos que eu já passei gosto de todos e foram todos uma experiência enorme para mim como pessoa, amigo e músico.
Sempre curti tocar bateria, então ao longo do tempo fui formando e entrando para bandas, tais como Sicksicksix, ZOOTIC e Albert Fish.
Como vocalista também tive em duas bandas; antes de entrar para os simbiose, onde ainda me encontro, passei pelos LOV da XIT, uma banda também já muito antiga que infelizmente houve muita gente que não chegou a conhecer...



2- Agora em relação à Anti-Corpos... sei que vocês lançaram algumas bandas de Espanha como SKAPARAPID e KISAP, e também os GAROTOS PODRES do Brasil, banda bastante conhecida no meio. O que significa para ti o mundo humilde do hardcore e as ligações que hoje em dia são feitas, com muito mais facilidade pela internet, que há uns anos atrás eram bem difíceis?

Sobre a ANTICORPOS, foi um projecto que iniciei com mais um amigo, á uns bons anos, com a finalidade de editar as nossas próprias bandas e bandas com a mesma ideologia política. As coisas vão começando a andar, começas com um lançamento, depois editas outro e dás por ti já tens uma data de material para distribuir com trocas que fizeste com outras bandas e editoras.
Sim. Hoje em dia as coisas são muito mais fáceis pela Internet, posso dizer que quando a anticorpos começou eu perdia muito, mas muito tempo a escrever cartas a pessoal e sem duvida que agora com a net consegues chegar a muitas mais pessoas e bandas que antigamente. Por exemplo, esta entrevista demoraria no mínimo um mês a ser feita, era o tempo de tu a fazeres, de me enviares, eu responder e tu recebê-la novamente.
Sobre a ligação com as bandas estrangeiras a internet não teve nada a ver. Tanto com os Skaparapid como com os KISAP; são pessoas com quem tenho uma relação de amizade há muitos anos e daí surgiram as edições. Com os GAROTOS PODRES, é uma banda que eu acompanhava e conhecia há muito tempo (desde criança, ehehe) e a banda veio parar à anticorpos através do Serralha dos Acromaníacos.
A meu ver, no Punk/HC, não existem bandas grandes ou pequenas, entendes o que quero dizer? Existem bandas com mais anos que outras mas todas têm a mesma filosofia. Por isso não vejo o porquê de tanto garotos podres como skaparapid não editarem pela AntiCorpos ou por outra editora qualquer, com o espírito D.I.Y.
Mas há que acrescentar que a net torna as coisas bastante mais fáceis.



3- O PUNK / HC sempre foi um estilo underground e supostamente DIY sim, onde a comercialização e a ligação a multinacionais nunca teve grande interesse. Sendo assim, o que me tens a dizer de bandas como CENSURADOS, TARA PERDIDA e MATA-RATOS terem ido parar a uma multi-nacional como a EMI?

É assim, eu não sou gajo para estar sempre apontar o dedo a ninguém! Eu falo pelo que faço e o pessoal das bandas onde toco fazem... Para mim não faz sentido nenhum tu seres editado por uma multinacional se tocas PUNK/HC principalmente por um motivo; é que, quer queiras quer não, o punk não se vende na FNAC ou lojas desse tipo! Apesar do punk sofrer uma alteração brutal de 10 anos para cá, e muitas coisas mudaram e já não são como eram no início. Por exemplo, os ALBERT FISH e os SIMBIOSE vendem 1000 cópias e não assinamos por nenhuma multinacional, fomos nós próprios que distribuímos os discos. Mas pronto, vejo também a cena das multinacionais como um comodismo por parte das bandas que não querem fazer nada para que sejam editadas por si próprias ou por editoras de amigos.
Outra coisa que tens que ver, quando entras para uma multinacional ou para uma editora grande, é que muitos dos teus direitos como banda acabam. Tens o exemplo dos CENSURADOS que hoje em dia querem ver os seus dois primeiros discos a serem reeditados e não é possível porque a editora tem o registo em seu nome e não está para investir numa banda que já acabou, e já não corresponde com os seus próprios objectivos. Isso é uma cena que eu não quero que aconteça com nenhuma banda minha nem com aquelas que fazem parte da anticorpos. Tu tens que ter sempre o direito de mandar naquilo que fazes.



4- Compreendo e concordo. Eu pessoalmente também não me estou a ver assinar por uma multinacional. Mas há que ver as coisas doutra forma. Para uma banda que tenha uma mensagem forte esse pode ser o escape... Tipo... uma banda que seja editada por uma EMI pode ter muito mais saída para o público, e dessa forma passar a mensagem a muito mais pessoal, do que uma banda da Ataque Sonoro, não?

Repara numa coisa, no HC o que importa é a atitude das bandas! Eu o que te estava a dar era a minha opinião pessoal, o que queria para mim ou para os projectos dos quais eu faço parte. Mas é obvio que uma banda consegue chegar através de uma multinacional a sítios que uma editora mais pequena não chega... Mas para isso acho que se tu tiveres uns bons concertos, com condições, não só com boas condições para as bandas estrangeiras, mas sim para nós também, quando falo de condições falo em bom som, cachet que dê para pagares as tuas despesas e respeito... Só assim consegues "competir" com o que vêm de fora, com a mesma qualidade!



4- Falando em cachets... uma cena que por vezes não compreendo é bandas que vêm de fora (Lisboa, Porto) a pedir exageros de 400€ a dizer que é só para despesas de viagem. O problema é que essas bandas se calhar não metem mais de 20 pessoas no recinto, e com bilhetes a 3€ não dá para pagar o seu 'cachet'. Não achas que as bandas 'hardcore' por vezes exageram nas condições num meio que supostamente não deveria funcionar desta forma? Digo isto porque quando nos convidaste para ir tocar a Cascais 50€ deram perfeitamente para ir e voltar... e ainda tivemos jantar e boas condições...

SIM e não! Ou seja, isto parte de um principio que é o seguinte, as bandas têm despesas que são fixas: sala de ensaios, cordas, baquetas, tours pela europa, gravações, e além daquilo que gastas para ires tocar (gasosa e comida), então é o seguinte, no caso de SIMBIOSE, a banda tem alguns objectivos, nos quais uns deles já foram ditos em cima e já vimos que como funcionamos há 14 anos esses objectivos não vão ser atingidos. Por exemplo, é muito injusto para uma banda percorrer 100, 200 ou 300km e vais na tua boa onda, por despesas e boa vontade; chegas lá e levas com o filme de não haver comida, de não haver dormida, do som nem dar para tu ao menos dares um bom concerto, e muitas das vezes o cachet "exagerado" que tu falavas era apenas para garantir estas condicões, para a pessoa que está a organizar ter a preocupação de nos dar um bom som e umas boas condições porque já envolve uma maior responsabilidade. Isto é a parte do SIM.
A parte do NÃO, é que muitas vezes uma pessoa que tem um espaço para 50 pessoas é impossível de pagar esse tal cachet, porque não se pode exigir muito dessa pessoa, e outra coisa é quando acreditas numa coisa e há um concerto de beneficência, que tem um fim com pés e cabeça, não como muitos que se fazem por aí, que nem se sabe para onde vai a guita, não podes estar a pedir guita porque estás a tocar por uma causa.



5- Ok. E bandas de 4 elementos, em que apenas 2 são vegetarianos, a participar num ANIMAL LIBERATION FEST? Achas correcto?

Acho!
E acho que é uma palhaçada o pessoal que não é vegetariano ou vegan não poder participar num benefit desses. Em primeiro lugar, já vi muita, mas mesmo muita gente, que hoje é o maior vegan, e que faz e acontece, e passado um ano comem carne, e olha que já vi muitos, e normalmente são essas pessoas que fermentam este tipo de problemas.
Em segundo lugar, se pões em causa só porque um membro ou dois ou até mais não serem vegetarianos, de não tocarem num festival destes, é porque tens uma mente fechada e não queres que se abra para os outros e tens que perceber que quantas mais pessoas forem ao concerto que não sejam vegetarianos, mais possibilidades tens de passar informação a quem realmente interessa, ou vais passar a vida a dizer às mesmas pessoas, que já sabem o que isso é, a mesma coisa?
Por exemplo, nós em SIMBIOSE somos 6 pessoas e só 2 é que somos vegetarianos e respeitamo-nos todos uns aos outros, e acho que muitas pessoas deveriam seguir o mesmo caminho. As coisas têm que começar por algum lado, não achas?



6- Sim, mas… Então como explicas que SIMBIOSE tenha cancelado a participação num festival de metal só pelo facto de uma banda ter ideologias nazi? Pela tua lógica vocês deveriam ter participado e tentado mostrar o vosso ponto de vista mas ao invés disso cancelaram a vossa presença...

Estamos a falar de coisas diferentes! Para já, além de só haver 2 vegetarianos na banda, não há ninguém em SIMBIOSE que se identifique com esse tipo de ideologia (nazi). Então dar guita a bandas dessas está fora de questão



7- Falando agora mais em SIMBIOSE... Vocês já têm mais de 10 anos de banda, já viveram muito, muitas alterações na formação mas a atitude continua lá. Uma banda de rock consegue aguentar-se 20 anos a tocar, uma de heavy metal também... para uma de crust (assim como uma de metal mais extremo) onde a musica é sempre acelerada... como é que vocês conseguem ainda manter a mesma pujança de sempre?

É pá, eu não sei o nosso dia de amanhã, mas uma coisa que eu adoro são os SIMBIOSE, e o que eu mais adoro no pessoal dos simbiose é que tocamos e fazemos aquilo que gostamos e quando isso acabar a banda acaba! Não nos vemos nos próximos 20 anos a tocar baladas em SIMBIOSE e a mudar de atitude! Ehehehe.



8- Então deves ser 'daqueles' que diz que Metallica 'morreu' com o LOAD e o RELOAD... Mas no entanto apareceram com o St. ANGER (que, apesar de não estar grande máquina, está bem melhor)... Ou 'daqueles' que dizem que Green Day ‘morreu’ com o NIMROD... no entanto este AMERICAN IDIOT arrasa...

É pá, não! Cada banda tem a sua vida própria...e eu acho que quando esse tipo de coisas acontece os "fãs" das bandas gostam sempre de apontar o dedo. Mas gostos são muito subjectivos, há pessoal que gosta mais de uns discos de uma banda e outros gostam mais dos discos de outras



9- Em relação a Portugal... como vês a cena nacional comparada à de lá de fora? Brasil...Espanha...terras do Tio Sam... Achas que estamos muito atrás em termos de spots para tocar, bandas, editoras, distribuidoras, ou que nem somos dos piores e nem nos podemos queixar?

É assim, em termos de bandas em Portugal estamos muito bem servidos, existem excelentes bandas, sempre existiram no nosso estilo e que se equivalem às de fora...
E a cena alternativa para tocar com condições são muito poucas. o que há são coisas muito caras e as realmente alternativas em Portugal contam-se pelos dedos. Editoras somos poucas.

Não concordo em termos poucas editoras... Tens a Raging Planet, Ataque Sonoro, Rastilho, Anti-Corpos, e outras ainda mais independentes...

Meu amigo, se para ti essas já são muitas, eu não concordo! Só são muitas quando todas as bandas novas tenham quem lhes edite um disco, é a minha opinião!
Mas as que há são boas, apesar de eu achar que não há organização entre elas. Unidos conseguíamos fazer coisas melhores!



10- Desculpa, mas continuo a discordar totalmente... Acho que já vai havendo muitas salas de espectáculos e editoras... Como disse na entrevista com o Congas... Antes só tinhas a Ataque Sonoro, Rastilho, o Ritz Club e a Praça de Espanha... Agora tens mais algumas, bares pelo pais todo (Associação de Músicos, Casa da Cultura de Loulé, o Culto, Santiago Alquimista, Lótus Bar…), só que ninguém se mexe. Estou errado?

É assim. Temos algumas salas mas também não são acessíveis e tu sabes bem disso. Sabes muito bem disso, sabes que maior parte das salas e bares de que falaste exigem uma percentagem brutal à porta e ainda ficam com o BAR, ou seja, mais uma vez a tua banda é que leva lá o pessoal, tu é que te esforças e organizas o concertos e o gajo da sala ou do bar não entende isso e muitas das vezes a percentagem que ele te dá nem dá para pagar a comida, publicidade, transportes, etc. Sabes bem disso.
E se isso é alternativo, vou ali e já venho!


Uma entrevista humilde e sincera. Obrigado Johnie.
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FOR THE GLORY - entrevista

...de shows de 50 pessoas para palcos de 500...



FOR THE GLORY é mais um daqueles ‘exemplos’ de sucesso no movimento hardcore nacional. Depois do ‘desaparecimento’ de bandas como X-ACTO, RENEWAL, TIME X, AS GOOD AS DEAD, etc, o movimento foi um pouco abaixo mas sem morrer por completo. Mas como tudo o que nasce morre… tudo o que parece morrer acaba por renascer… E foi assim que começaram a surgir bandas como 20 Inch Burial, For The Glory, Black Sunrise, etc. Bandas cuja mensagem continua bastante firme na base do que o hardcore é e deveria ser.
Deste lote de bandas temos os FOR THE GLORY. Após o lançamento de ‘Drown in Blood’, a ligação à Raging Planet e uma agenda de concertos, que não só percorreu o país de Norte a Sul como os levou a correr a Europa de uma ponta a outra, eis que regressam a Faro para deixar marcas partilhando o palco com os SYNEAD, R.J.A. e CLEAN SPIRIT. Há que referir também que FOR THE GLORY foi a banda até hoje que mais gente ‘levou’ à Associação de Músicos de Faro em concertos dados no ‘palco pequeno’. Aqui ficam as 10 impressões digitais que tirei ao vocalista Congas às 3h30 da manhã do dia 25 de Julho de 2005.




1- Congas, desenha lá um pouco o percurso dos FOR THE GLORY nestes últimos tempos tendo em conta as constantes mudanças de formação, agora que aparecem com o Rui de 20 Inch e reaparecem com o Miguel que já tinha feito parte do projecto.

Ora bem, então o que se passa é o seguinte. Os FTG começaram há cerca de 2 anos, demos o nosso primeiro concerto a 31 de Agosto em Lisboa. Nessa altura a banda era formada por mim, Rui, Sérgio, Mike e Poli. Fizemos umas tours e tal, duas europeias, lançamos o disco, promovemos de norte a sul e tal e depois de estarmos assim a preparar as cenas novas é que o Miguel e o Poli decidiram que se calhar não era o que eles queriam. Tivemos então o João de Criminal Waste a tocar connosco mas que não resultou e ele acabou por sair da banda à pouco tempo. Como tínhamos uma data de shows marcados e não tínhamos baterista para fazer esses mesmos shows falamos com o Miguel e ele juntou-se a nós para nos fazer estas datas e temo-nos divertido bastante.
O Ricardo de 20ib foi daquelas ajudas brutais. Este ano em Janeiro nós fomos em tour e o Sérgio não pôde ir, falamos com o Ricardo e ele prestou-se em ajudar o pessoal e veio connosco fazer a segunda guitarra. Quando o Poli saiu da banda o Ricardo continuou a ajudar a banda e sempre que podemos contar com ele, toca com a malta e tal. É brutal poder tocar com ele porque ele traz uma grande energia à banda e bons riffs e ideias. Mas ele e o Miguel estão apenas a ajudar enquanto não temos pessoal para ficar a tocar com a banda, mas nunca se sabe…



2- Agora falando um pouco mais de ti... TIME X, WHAT WENT WRONG, FOR THE GLORY... que mais? Descreve lá aqui um pouco o teu percurso.

Eu comecei com bandas aos 12 anos. Tinha uma banda aqui na zona que eram os SEM ABRIGO (punk fodido), eheheh. Depois fiz os DOUBLE SCANDAL e daí em diante percorri os POSITIVE WAY, BY MY SIDE, TIME X, SEIZE THE DAY, DAY OF THE DEAD, THE FIENDS, WHAT WENT WRONG, FOR THE GLORY…
Mano, eu cresci com o hardcore, sempre me identifiquei com as cenas, ideias, musica, atitude íntegra e sincera… Nunca fui muito de merdas de vedetismos. Sempre toquei mal e cantei mal mas sempre quis seguir o meu sonho que era ter bandas e fazer tours, cenas assim.
Tipo, já vi de tudo na cena hardcore, muitas bandas que levantei e muitas bandeiras que deixei de erguer, chateei muita pessoa e deixei muita pessoa feliz, disse merda e disse coisas boas. Não sou um santo mas também não sou um demónio.
Sei que por vezes há ainda o pensamento que tenho manias, que sou vedeta e não sei, não quero de forma alguma estar a desculpar-me ou a apresentar alguma merda a meu favor mas sei o que faço e tenho noção das merdas que faço mas também tenho noção que sou assim mesmo, o que vês é o que tens. Não gosto de falinhas mansas para agradar.
Acho que o que falta na cena hardcore é as pessoas cortarem as merdas e serem objectivas sem grandes rodeios e mostrarem o seu impacto no mundo à volta delas, marcarem a sua posição independentemente do que defendem Uma coisa que sei fazer é aceitar a diferença; aceitar a diferença e individualidade de cada um é um passo importante na vida das pessoas e no sangue corrente da cena hardcore, para que cresçamos como pessoas e bem com o Mundo.
Aprendi a aceitar as pessoas e a lutar pelo que gosto mas uma coisa é verdade: tenho cara de mau, ahahaha.



3- Pois é... infelizmente o hardcore de 2005 não é o mesmo de 1995. As pessoas mudaram e as mentalidades não ficaram atrás… Antes havia mais aquele feeling de entreajuda, hoje há mais as celebres 'facadas nas costas' para subirem enquanto os outros desaparecem. Como vês a cena hardcore actual comparada com a de há 10 anos atrás?

Mano, eu concordo plenamente que a cena não é a mesma de 96 mas ainda bem se queres que te diga. Tenho pena que os shows estejam cada vez mais vazios mas por outro lado compreendo que agora as coisas estão mais abertas, há mais por onde escolher. As facadinhas sempre existiram e sempre hão-de existir. Isto é uma cena hardcore que vive sobre isso, senão onde iriam os youth of todays e as bandas youth crew fazer letras? Ahahaha. Faz parte da cena viveres e conviveres com pessoas que até não gostas muito, mas é como disse, vive com as diferenças e mantém-te no teu caminho. Uma batalha ganha pelo teu suor sabe bem melhor do que ganha de forma suja. Agora há mais bandas e mais qualidade, acho, não temos salas boas para concertos e é difícil fazer shows, mas mesmo assim não impede de haver shows a toda a altura. Cada vez mais bandas de fora vêem cá e isso é grande power.



4- Permite-me que discorde parcialmente do teu ponto de vista. Eu penso que actualmente temos mais salas e condições para tocar mas as bandas cada vez têm menos qualidade; há cada vez menos adesão nos concertos. Mas penso que o tocar ao vivo não é o mais importante, pelo menos no hardcore. O + importante não seria mesmo a mensagem? Mas com tanta 'facada' torna-se difícil, não achas?

De que adianta a mensagem se a passas ao teu núcleo de amigos que sabe das coisas? De que interessa não teres meio de suporte para fazeres a mensagem? Epá, eu acredito que a mensagem é super-importante, é isso que faz com que o hardcore seja tão verdadeiro, é as pessoas serem verdadeiras com a sua cena. Mas também o hardcore prima por ser uma cena de musica onde as pessoas são normais, sem grandes rodeios, todos podemos ter uma banda, tocar uma musica, divertirmo-nos com os nossos amigos… Não estou a dizer de forma alguma que hardcore é apenas musica, porque não é, mas de certeza forma é um estilo musical com umas ideias baseadas numa vida simples, pessoa, opiniões verdadeiros e relatos da tia vida pessoal / social e é o facto em como letras simples conseguem tocar nos corações de pessoas e fazê-las pensarem e despertar reacções. Isso é hardcore, na minha opinião.



5- Agora mudando um pouco de assunto e tocando num tema que bastante me custa pronunciar. Mas, se dizes que o hardcore é tão verdadeiro e que pode tocar nos corações das pessoas como explicas que uma pessoa como o Rodrigo, um dos impulsionadores da vertente straight edge e do positivismo em Portugal, possa ter tido o fim que teve?

O Rodrigo tocou numa das bandas que mais respeito em Portugal e que mudou a minha vida, X-ACTO. Pá, tipo, são coisas que nunca podem ser explicadas. Tu nunca sabes quando é que a tua vida pode deixar de fazer sentido, se calhar para ele achou que não valia a pena viver e decidiu pôr termo a isso. Há certas coisas que nunca serão compreendidas sem serem vividas na pele. Tenho muita pena que tenha sido assim mas espero que ele descanse em paz, não por ser chegado a ele (porque não o era) mas sim pela inspiração que foi para mim assim como para muito pessoal da cena hardcore straight-edge.



6- Sim, mas, voltando ao ponto fulcral da questão; dizes que o hardcore é uma cena forte, séria e sincera, mas não achas bizarro um seguidor da filosofia straight edge acabar com a vida desta forma?

O Rodrigo não era straight-edge desde o fim de X-ACTO.
Pá, eu sou straight-edge e já várias vezes pensei em pôr termo à vida; há certas coisas que nem mesmo o gajo mais positivo do mundo deixa de sentir…
Há momentos em que o mundo cai-te aos pés e tu nada podes fazer, parece que estás num buraco e acredita que não é o X na tua mão que te salva. Eu disse em Viana do Castelo assim: ‘O mundo não é azul mas também não é preto, é cinzento e temos de tirar o melhor proveito da vida’.

Ok, mas... o straight edge não era suposto ser para toda a vida? Uma pessoa 'deixar de o ser' é um pouco estranho. A música pode ser algo forte para te agarrares e para te suicidares nela... e não para acabar com ela cá fora…

O straight-edge é suposto ser até onde queres que ele seja, até ele fazer sentido… Assim como toda a vida é assente em pilares que só fazem sentido quando tu os vives da maneira certa e não os forças. De que adianta seres straight-edge se não sentes as cenas? De que adianta seres vegetariano se passas a vida a lamentar que queres carne? Tudo faz sentido na vida enquanto for verdadeiro, porque a partir do momento que está a ser feito por favor não é sincero, é como se fosse uma traição à tua própria pessoa. E tu deves de agradar a ti mesmo para que vivas de consciência tranquila.



7- Concordo plenamente. Agora deixando o Rodrigo de parte (paz à sua alma) e mudando um pouco de assunto, voltando ao movimento hardcore em Portugal. Onde estão os grandes concertos para 400 pessoas (com NEW WINDS, X-ACTO, TIME X)? Onde estão as zines? Onde está o sacrifício pela cena? Parece que actualmente as bandas sentem-se melhor num cartaz europeu ou americano do que a tocar por cá...

Pá, é assim… FOR THE GLORY toca concertos grandes às vezes, tocamos em festivais e cenas assim, tocamos para 100 pessoas como tocamos para 400 ou 500. Pá, para nós o importante é estarmos a tocar para quem nos quer ouvir e quem quer sair de lá com alguma coisa nova. Eu sempre fiz zines, labels, distros e bandas… Agora só tenho a banda, a minha vida não dá para mais. Mas sinto saudades das zines. De facto, eu falo por FTG, nós sentimo-nos bem a tocar na realidade hardcore europeia, temos muitas bandas amigas e temos tido facilidade em marcar tours e tocar lá fora. Se queres que te diga, em Portugal não se dá o devido valor ao que se faz por cá e isso afasta as bandas de quererem tocar cá. Por exemplo, tocar em Lisboa é muito mau de momento. Uma apatia geral tomou a cena de assalto, pode ser que mude…



8 - E a que achas que se deve essa apatia?

Há uns anos atrás as cenas estavam todas juntas, porque só havia um tipo de bandas. Todas as pessoas iam aos mesmos concertos. Agora tens mil bandas, vários estilos e cada um desses estilos tem 50 seguidores que acabam por ir só aos shows desse estilo, o que por sua vez faz com que os shows dos outros percam 50 pessoas. Imagina isto por várias vertentes da cena hardcore. E também em Lisboa pensa-se muito que se tem o rei na barriga e que já se viu muita coisa, quando afinal a cena tem muito para crescer em tudo.



9 - Yah... e infelizmente já se está a tornar mais uma moda do que outra coisa qualquer... Antes era o old school porque andava aí o boom de BETTER THAN A 1000 e BATTERY, etc... Às tantas foi o new york de MADBALL e AGNOSTIC, depois vieram as metaladas com a febre dos INDECISION e EARTH CRISIS. Agora anda muito 'emo' por aí ou então aqueles rasgos mais à DILLINGER. Afinal, para ti, o que é o hardcore hoje em dia?

São as pessoas, a individualidade, a forma como te apresentas no teu dia-a-dia, a vontade de entrar na vida a ganhar e de sair de cabeça erguida, quebrar as barreiras e os preconceitos, a energia, o mosh, a música, o stage dive, o mundo podre à minha volta, são tantas coisas…



10 - Para terminar... como disseste a pouco, cada vez mais há bandas estrangeiras a tocar por cá e cada vez mais temos bandas nacionais a ir lá fora... Mas cada vez menos vemos intercâmbio entre bandas nacionais; é raro veres 1 banda de Faro ir a Lisboa ou 1 banda da Guarda ir a Évora, por exemplo... O que sentes que falta no meio disto tudo para impulsionar mais as bandas que não têm tanta iniciativa para se mexer?

Epá, tipo, FTG não se pode queixar muito porque vamos a todo o lado, desde Viana até Faro, Europa toda e etc. Eu evjo bué de bandas portuguesas a ir lá fora pá. BLACK SUNRISE, NEW WINDS, DAY OF THE DEAD, POINTING FINGER, OMITED GR, pá, cada vez há mais bandas de Portugal a ir lá for a. E começo a ver os europeus/americanos a despertarem o interesse pelo que se faz por cá. De qualquer das maneiras cá em Portugal é um meio pequeno e não tem condições para ter tanta banda e tanto concerto ao mesmo tempo, isso leva à saturação. Eu acho que mesmo assim tens grandes bandas em Portugal e tens pessoal que se dá bem uns com os outros, não se pode esperar que haja boa interacção entre toda a gente mas pelo menos no que me toca a mim, e é sobre mim que falo, acho que tocamos com várias bandas e vários estilos desde que haja boa onda nos shows.
O que sinto falta?
Salas que não discriminem as bandas por tocarem uma cena mais agressiva, sinto falta do apoio às bandas underground, sinto falta de uma sala no coração de Lisboa que seja tão boa como o RITZ CLUB para se dar shows.
Acho que é disso que sinto falta.
E como são 3h30 da manhã sinto falta de pão quente e manteiga e tal e ir para a cama, ahahaha.


Obrigado pela humildade e sinceridade Congas, felicidades para a banda.

Monday, July 25, 2005

R.J.A. - entrevista

- A Rua José Afonso 'ainda' dá cartas


R.J.A., uma banda que conheci algures (para variar) no ZONA PUNK onde me encontrava a checkar os cartazes dos proximos shows.
O interesse surgiu em conhecer o seu projecto e às páginas tantas entrei em contacto com os membros e comçou-se a estabelecer contacto... FARO e TORRES NOVAS.
Tive oportunidade de conhecê-los na finalissima da JCP para apurar as bandas que iriam estar presentes no palco NOVOS VALORES da Festa do Avante... e essa finalissima ocorreu precisamente em Faro, na associação de musicos, onde mais?
Conheci estes 3 ribatejanos que deram um show de arrasar... e não é que ganharam mesmo a finalissima e vão ao Avante? Nem é de admirar...

Enfim... aqui ficam os 9 toques que demos pelo Messenger (faltando o ultimo que não teve oportunidade de chegar ao outro lado devido a um corte na ligação) :



1- Antes de mais nada, sei que vocês esta semana foram apurados para a Festa do Avante numa finalíssima que foi bastante difícil de passar tendo em conta as bandas que eram, grande parte delas já com algum nome a nível nacional. O que significou para vocês essa vitoria?

Tínhamos um objectivo traçado, e alcançamos o que pretendíamos, tipo José Mourinho, mas sem arrogância!



2- Ok. Mas uma banda quando concorre para um objectivo destes, geralmente tem tendência a enveredar por um factor mais politico do que propriamente musical. Digo isto porque uma banda para querer tocar ao vivo num festival deseja os Festivais de Verão mas quando se concorre para o Avante o 'destino' parece ser outro. O que significa para vocês estar presentes num evento deste calibre?

O Avante tornou-se na Festa do Povo já há largos anos! É importante tocar numa festa em que encontras pessoal de quase todas as sub culturas jovens que existem num país, (pelo menos encontramos aqueles que nos interessam).



3- Sem querer ser desmancha-prazeres nem de certa forma ofensivo, geralmente as bandas punk seguem uma ideologia de índole ANARQUISTA mas vocês participam num evento COMUNISTA. Qual é a influencia politica que está presente na mensagem de RJA?

As letras de R.J.A. reflectem um modo de pensar, de ver e de analisar o mundo. As letras são honestas como as músicas, em 7 anos nunca procurámos agradar a ninguém, sem ser a nós próprios e a todos os amigos que nos acompanham neste trajecto. E o número de amigos está a aumentar a olhos vistos. R.J.A. é diversão sempre com um olhar preocupado para o que se passa à nossa volta!



4- Tudo bem mas, sem querer ser persistente mas ao mesmo tempo sem querer fugir ao assunto. Actualmente penso que as pessoas sentem necessidade de mudar. Uns mudam para o PCP, outros para o BE, outros simplesmente abstêm-se, outros 'rotulam-se' de anarquistas... Há uma certa necessidade de nos assumirmos como algo. No entanto não passa de rótulos visto que ninguém faz nada por mudar. De que forma consideras os RJA como uma influencia politica no nosso pais já que se ‘preocupam com o que se passa à vossa volta'?

Nós tentamos abrir os olhos a muitos jovens que agora começam a ouvir sons que não passam nas rádios, penso que a ideia base é a de que se todos se respeitarem mutuamente e se houver um espírito de entreajuda entre a população deste país, os governantes serão pressionados a fazer cedências que hoje em dia não fazem!
Nenhum dos elementos da banda é ou foi militante de qualquer partido, mas existem simpatias!



5- Ok. Explica lá isso de 'os governantes serão pressionados a fazerem cedências que hoje em dia não fazem'? Achas que a musica é um bom meio para se 'pressionar'? Achas que actualmente os concertos punk-hardcore, com putos que só querem andar ao pontapé, são importantes nesse sentido?

Há muitos anos que vou a concertos de vários estilos, e quando uma banda tem algo a dizer que faça todo o sentido para quem a ouve, pode mudar a opinião dessa pessoa em muitos aspectos, penso inclusive que a música pode ter um carácter educativo, levar as pessoas a se auto questionarem relativamente a certos temas que se não estivessem presentes numa letra de uma qualquer canção, poderiam passar ao lado da vida dessa pessoa!



6- Compreendo perfeitamente essa opinião. Não fossem os X-ACTO e eu não teria seguido o movimento straight-edge. Não fossem os Punk-Kecas e eu não teria seguido o estilo de vida 'hardcore' (se é que o sigo). Mas o punk (refiro-me apenas à musica) sempre foi 1 estilo pessoal mas ao mesmo tempo político. Só que actualmente as bandas só falam de ganzas, álcool e merda. Afinal o que se passou?

Por isso é que nós somos mais agarrados aos clássicos! Eu, BIDUGA, geralmente escrevo as letras com coisas que me preocupam ou que acho que podem ser elementos de união na opinião daqueles que nos ouvem. Também temos uma música a falar de álcool, e até de sexo, enfim, tudo faz parte da vida de um homem simples.



7 - Ok. Mas não será contraditório vocês dizerem que se preocupam com o que se passa a vossa volta e depois falarem de 'álcool'? Isto é... achas o álcool um bom exemplo a seguir? Não está em causa ser-se straight ou não. Falo num factor mais positivo. A música deve ser para aconselhar e não para influenciar negativamente, não achas?

Concordo contigo, o álcool não é um exemplo a seguir, mas quando falei em respeito e em abrir os olhos anteriormente, também me referia a isto. Tu podes ouvir, concordar ou não, e teres autonomia suficiente para decidires o teu estilo de vida. Nós não somos alcoólicos, mas às vezes lá se cometem uns abusos. São os factos reais da vida!
Se todas as pessoas fossem clientes habituais de uma biblioteca, se pesquisassem mais, se estudassem mais e se se preocupassem mais com o bem de todos em vez de com o bem das personagens da novela havia muita gente que neste momento andava a trabalhar para as obras ou engrossar a lista do desemprego!



8- Desculpa bater sempre na mesma tecla mas... falas em passar mensagem mas por outro lado dás a hipótese de os ouvintes não a seguirem. É claro que eu quando dou um conselho não quero ser ditador ao ponto de dizer que é a única forma correcta mas... se passo mensagem é porque pretendo que seja aceite e seguida, não? Fico mesmo fixe quando sei que foi recebida e bem aceite, tu não?

Gosto de ver a reacção do pessoal nos nossos concertos, gosto de ouvir comentários positivos ou negativos, até a minha própria profissão passa por passar uma mensagem, e também fico fixe se ela for entendida, no entanto não fico lixado se as opiniões forem contrárias, porque se fossem todos do Sporting, o futebol não tinha piada!



9- Falando em futebol, há boas questões para serem colocadas. O José Mourinho ganhou 100 mil contos (fazes bem ideia de quanto isso é?) por ganhar a Liga dos Campeões. Esse dinheiro é 'dado' por nós quando 'o' vamos apoiar. No entanto Há gente a morrer de fome. 100 mil contos dava para matar muita fome. Sei que isso é o 'ciclo da vida' mas... o que pensas em relação a isto?

Penso que quem tem muito deve ajudar quem tem pouco, e sem estar a defendê-los há muitos jogadores de Futebol que o fazem, uns para aparecer na televisão, outros porque pensam como eu. Se as pessoas que passam fome tivessem governantes menos corruptos seriam mais cultas, educadas e certamente teriam comida e o mundo seria muito melhor!



Felicidades!

Friday, July 22, 2005

Projecto 'GRITA'

...do ecrã ao papel, promovendo o respeito entre as pessoas...



Foi algures numa passagem diária pelo ZONA PUNK / PUNK PT (www.punkpt.com) que decidi deixar um post a fazer publicidade ao meu mais recente http://anymais.pt.vu de forma a divulgar mais um pequeno projecto que me ocorre por vezes criar assim do nada, sem qualquer razão aparente.
Foi algures noutra passagem diária pelo ZONA PUNK / PUNK PT, na qual fui confirmar se o post teria sido publicado, que notei que tinha 1 reply ao mesmo.
Abrindo o comentário deixado notei que teria sido algum desconhecido e autor de um website chamado GRITA, sito em
www.GRITA.pt.vu.
Decidi ir ao site e wooowww… que pedra. Mais um rasto de intervenção e activismo proporcionados por pessoal ‘inocente’ às calamidades que nos entram pela caixinha colorida todos os dias em nossa casa.
Foi então que descobri o site, o projecto e o mentor da ideia. Chama-se Pedro Sanches, tem 20 anos e é ‘APENAS mais UM’ que fala, fala mas não vê as coisas acontecerem. É mais um como eu, outro como tu…enfim… Mais um a tentar e a não conseguir. Ou talvez sim… Num projecto que já anda por aí desde Setembro de 2004.
Decidi entrar em contacto com o mesmo para as minhas habituais 10 questões semanais e aqui fica o relato da conversa.



1- Tive conhecimento do vosso projecto GRITA através do ZONA PUNK... Na realidade o que posso encontrar em www.GRITA.pt.vu ???

É pá… O objectivo da cena é tentar fazer com que pessoal interessado publique e promova ideias, eventos, noticias, tentar ser o mais livre possível e promover o debate e a consciencialização das cenas que se passam à nossa volta. Não nos queremos pegar nem identificar com nenhum tipo de ‘tribo urbana (ou rural)’, queremos apenas promover ideias construtivas. Quando falamos em livre expressão de ideias não nos agrada a ideia da censura mas há certas ideias e preconceitos que vão um pouco contra as nossas cenas e não achamos justo publicar. Tentamos promover o respeito entre as pessoas.



2- Falas em censura mas eu prefiro o termo ‘divergência de opiniões’. Não achas que haver diferentes pontos de vista podem-nos ajudar a definir certos conceitos que por vezes nos confundem um pouco? Por exemplo… a palavra ANARQUIA. Muitos usam o seu símbolo mas nem sabem ao certo a que se refere. Vemos ‘anarquistas’ a dirigir-se a uma tribuna de voto. Não achas contraditório?

Sim, tens razão quando falas em anarquia. Quando falamos na tal ‘censura’ o objectivo é mais virado para a descriminação e falta de respeito a grupos de 10000 quando as ovelhas negras são só 20. O caso do racismo, eu tenho consciência que nós (todas as pessoas) somos comos somos devido a X acontecimentos durante as nossas vidas, logo não podemos ser culpados de nada, fomos sorteados com acontecimentos aleatórios que nos fizeram mal, blá blá blá. A cena é que não toleramos esse tipo de ideias, mesmo que possam promover debates (bons ou maus, não interessa) porque podem afectar um grupo de 10000 quando as ovelhas negras são só 20. A cena é promover ideias relativamente fundamentadas (é claro que não podemos assegurar a fiabilidade de tudo o que nos é enviado) e é aí que entra a tal censura.



3- Ok. Compreendo e respeito mas tentemos ver isso noutra perspectiva. Imagina que tenho um site anti-racista mas no entanto é de livre expressão. Imagina no entanto que entra lá alguém que já foi agredido e assaltado por negros e, por acaso, nunca o foi por gente de ‘raça branca’. Esse sujeito entra e critica os ‘niggers’. Não achas que seria incorrecto da minha parte boicotar esse comentários já que se trata de um site de livre expressão? (n.s. -> não está aqui em causa o facto de eu ser ou deixar de ser racista… todos nós temos razões para o ser ou não… mas isso é meramente pessoal)


Claro. Mas por aí também podíamos aceitar anúncios de touradas e etc, cenas que somos totalmente contra. Acho injusto criticares o grupo dos negros quando quem te assaltou foram ‘os que assaltam’. Isso é ódio mal direccionado (não é todo o ódio mal direccionado???). Entendes a ideia? Se pensares bem, dentro dos negros também há pessoas boas. É por aí que queremos chegar.



4- Claro. Como te disse foi apenas uma questão, um exemplo. Nunca tive problemas com ‘blacks’ mas isso não significa que não possa ser racista. Um gajo pode ser racista sem nunca ter sido assaltado por pretos e toda a vida o ser por brancos. E sinceramente acho este tipo de pensamento absurdo numa sociedade como a nossa.
Enfim, eu teria de aceitar os comentários sobre tourada mesmo sendo contra já que seria um site 100% livre de expressão. Quem sabe se esses comentários não me fariam apoiar a tourada? Acho difícil mas nunca se sabe… ou achas que estou completamente errado?

Sim, foi um exemplo para tomar como genérico.
É pá, eu sei onde queres chegar mas tentamos promover o respeito acima de tudo, nem deve haver forma de argumentar essa ‘censura’. São ideias que discordamos fortemente e que só promovem ignorância (voltar atrás no tempo???) e ódio, na nossa opinião.



5- Ok. Compreendo onde queres chegar. E admito que é quase nula a hipótese de me fazerem apoiar a tourada. Já agora… falando em tourada & hipocrisia (num certo ponto de vista). Não achas também contraditório um ‘comedor de carne’ ser contra a tourada quando muitas vezes a carne que tem no prato provém do sofrimento de outro animal?

Sim. A violência contra os animais existe em todo o lado. A diferença é que na tourada é mais visível aos olhos do público. Também é contraditório gostar de cavalos e leva-los às touradas. Há outra cena: só poderemos realmente libertar os outros quando nos conseguirmos libertar a nós. Comer carne, ou não, vai da consciência e forma de ver o mundo de cada um.



6- Mudando de assunto… Há quem critique todas as medidas tomadas por um ministro. Por vezes a oposição critica só pelo facto de ser oposição. Do tipo… se aumentam o IVA eles são contra; mas se não aumentassem eram a favor. Achas que a politica no nosso país está a ser mal implementada ou consideras boas as intenções mas mal conseguidas?

Às vezes a medida mais racional não é a mais justa. Há que saber equilibrar isso. O problema não é dos políticos, é da sociedade em geral, da educação das pessoas. Porque qualquer um que suba ao poder vai para lá fazer o mesmo. Em relação à economia aplica-se o mesmo. Foi muito fixe entrar no euro por X situações mas perdemos a possibilidade de regular a moeda conforme nos apetece. Os problemas por falta de competitividade não são só da responsabilidade do poder e das suas burocracias, é também falta de aposta, inovação e formação das pessoas em geral.



7- Ora bem… E o que achas do comunismo implantado em Portugal? Seria uma hipótese ou apenas um atalho para se chegar ao mesmo lado?

É pá, são todos muito bons. Quando estão em baixo todos piam e criticam os que estão em cima e com as responsabilidades. Isso acontece em todo o lado.



8- Falando mais do ‘projecto GRITA’; está simples, assim como este ANYMAIS e como tantos outros, mas poderá ter a capacidade de atingir alguma meta. O PUNK PT também jamais fazia ideia da dimensão a que poderia chegar. Um site tão pequeno que actualmente se tornou num marco obrigatório e influente na cena punk nacional. Onde pensas chegar com o GRITA?

A ideia é espalhar e trocar ideias com o maior número de pessoas possível, tentar manter a cena independente, pelo menos nas ideias e artigos divulgados. Às vezes saem umas impressões em papel para espalhar pela rua; a ver se há mais participações no site, dar a conhecer as nossas ideias ao pessoal que não tem acesso à net, etc. Era fixe tentar cuspir edições em papel com maior regularidade e com melhor qualidade de imagem e essas mariquices, vai como se pode… Queríamos estender também à organização de eventos que achemos essenciais e importantes ou indispensáveis, meter as ideias em prática!



9- Por falar em papel… Coloco novamente a questão que formulei ao Pablo na entrevista anterior. As zines sempre foram um meio importante na troca de ideias e divulgação da luta hardcore nacional. Não sei se estás ligado ao ‘movimento hardcore’ e as zines por vezes nem tão pouco têm a ver com a música que é praticada, mas… que achas do seu ‘desaparecimento’ tendo em conta a regularidade em que eram vistas em concertos? Achas que isso ‘matou’ um pouco o movimento ou achas que nem tão pouco interferiu na continuidade do mesmo?

Gostava de estar mais dentro do movimento hXc. Fugindo um pouco ao assunto mas acho que responde à pergunta… Há cenas que curto de ver em concertos, são aqueles discursos que o pessoal se arrisca a dizer, mesmo que digam merda, mas ao menos têm colhões para isso. Aqueles discursos em que falam sobre ideias, cenas que se passam, incentivar atitudes, informar as pessoas que assistem aos concertos. Agora vem a parte que interessa… É que muita gente ignora esses discursos, estão lá só para curtir a música, às vezes reclamam porque os discursos nunca mais acabam e estão-se mesmo a cagar prá cena, pró objectivo dos concertos (que é trocar ideias, é assim que eu vejo) e etc. O mesmo penso que se aplica às zines. É muito fixe andares a distribuir e tentar falar com o pessoal, incentivar à leitura, mas passado uns tempos encontras-te com as pessoas e perguntas ‘então o que achaste da zine?’ e a resposta não passa de ‘é pá, ainda está no bolso do casaco’…



10- Ora bem, esse é mesmo o mal… Ou então é como dizes, vão para um concerto para andar no biqueiro e às tantas a banda fala e aproveitam para ir beber um copo voltando só com o recomeçar da música. Ou pior ainda, vês pessoal a consumir um jantar carnívoro uma hora antes de ir para cima do palco cantar a cover da ‘COMPASSION’ de X-ACTO. Para terminar quero colocar-te uma ultima questão. Nos 90’s, na altura em que X-ACTO e NEW WINDS andavam a rebentar com concertos, eram raros os spots onde se pudesse tocar (tinhas o RITZ, a OKUPA da PRAÇA DE ESPANHA, e pouco mais…); e o movimento nunca estagnou. Havia gente a apoiar, concertos a abarrotar, pessoal a vender zines e a trocar ideias. Actualmente temos mais oportunidades, mais apoios e pessoal a ‘mexer-se’ no meio. No Algarve temos a Associação de Músicos de Faro, o Satori, a Casa da Cultura em Loulé, o Cinema Topázio na Fuzeta, etc; mas parece-me que o pessoal deixou de se interessar. As bandas acabam mais rapidamente, os concertos não passam das 100 pessoas, o pessoal da velha guarda deixa de acreditar e ‘parte para outra’ e cada vez mais há menos putos a entrar na onda. É a moda do hip-hop e da disco. Antes havia 1 pássaro na mão, hoje há dois a voar. Qual consideras a principal razão ou causa desta ‘mudança de atitude’?

É pá, tanta coisa: a educação dos putos que só curtem playstations e estar fechados em casa, a TV que diz que ir à disco, foder e ter bué guita é sinal de uma pessoa bem sucedida… Por vezes há umas ovelhas negras na cena que transmitem uma má mensagem e imagem, que faz com que os de fora pensem que isto é bué degradante e negativo quando a ideia é construir e ter uma cena positiva para todos, que promova o respeito global. Outros não entram na cena porque a musica não lhes agrada, a mensagem é pouco perceptível ou assim… Tanta coisa…


Obrigado pela participação, João. Um abraço e felicidades para o projecto.

Wednesday, July 20, 2005

Comme Restus

...levaram o cão a passear...



Comme Restus é um daqueles fenómenos que não dá para explicar. Conquistaram o país o ano passado com letras que só ouvindo para crer. A entrevista foi feita à mais de um ano mas penso que se mantém actual e necessária de publicar. Pouco mais há a dizer...
Enfim... que venham os ciclistas, a Extrudes e o Zé Xórisso....


1- Antes de mais nada, quem são os Comme Restus?

Homeim-Sugo - Os Comme Restus ção uma cuperativa ke ganha muito denheiro mas não tem fins lukrativos…ou seija…çomos uma ispecie de franxaisingue monocúbiko russo…tas a ver? Uma propriedade alheia mas com dono não identefikado…



2- Quais são as vossas habilitações literárias?

HS - Eu nunca frequentei o hençinu çuperiore porke tenhu vertijens…

Fonseca Galhão – Eu, pissoalmente falamdo, sô dotorado em matemáticas ampliadas pela Unidiversidade de Jarvard. A minha tése de dotoramento foi dendicada a discobrir a solussão para o teorema de Fermat. Só discobrir, entemdes? A solussão num fazia parte da tése. Adepois fis cuncurso para prufeçor catederártico com uma dissertassão sobre cómo as variassões da teuria da impressizão do Eisenberg e do Schrödinger num resoltarão pruque eles fufavam uns cum os otros. Eram tipo pandeleiros, mas só que ao contrário. Adepois arrecenbi um dotoramento onório causa pela Unidiversidade das Caves Alianssa, mas fôi pur otros montivos. Só adepois acabei a cuarta classe.



3- O que pretendem os Comme Restus da indústria musical?

FG – Os Comme Restus prentemdem acanbar com a munsica prutuguesa. Axo que num fás semtido falar de munsica prutuguesa quando nós já semos da união eropeia á tamtos anus. Axo que apartir dagora devemo-nos ter munsica da união eropeia em prutugal, caralho. Tipo já só ser preciso amostrar o BI para entrar num conserto. E num pagaremos IVA nas bujecas que buermos na Ilha do Farol e o caralho. Adepois tamãe era ginro que o Rão Kiau acomençasse a camtar em Belga, tipo os Rãomestaine.

HS- Ê sô mais umilde prque só keru dinheiro da industria musical!!!! Com a minha rikeza possu fumentare a industria mundial do caroço.. é um negóssio do karalhu porque como ningueim tem caroço o negóssio funcionaria!! Aleim do mais keru amontar un negórcio de purstituição de bonecas insufeláveis. Tipo: tu págas, lévas a boneca, págas à gaija, lávas-za e devolvesma. Tá semprándar.



4- A música ‘Extrudes’ é dedicada a quem?

FG – Á cóna da mãe do Zé Xórisso, quié un gaijo muita fiche que a jente conheçe, caralho. Mas, pissoalmemte falamdo, num é para onfemder o gaijo, tás a ver caralho? É num semtido que se nã foçe a cóna da mãe dele o gaijo num existia e adepois nós num éra-mos amingos dele.



5- Já houve quem vos comparasse a bandas como Ena Pá 2000 e Cebola Mol. O que pensam vocês disto?

FG – Ê cá curto mais de falar é de esgalhar ao bixo. Ou masturbassão ou punhêta ou lá cumu é quéssa méreda se xama-se. A cêna mais lôca é tu deitareste encima do teu brasso isquerdo inté tornálo durmente. Cuando tu já num o semtires ixperimenta esgalhar uma cua tua mão isquerda. Parece-te que tá um morto a tocar-te ao bixo.

HS - Fodasse, eu axo que os Ena Mole são uma ganda banda, caralho. Quanto aos Cebôla 2000, axo que andam um pouco fracos na compusissão... especialmente quando xóve!



6- Achas que vale a pena ver um espectáculo de Comme Restus?

FG – Eça pregunta é buérda difícil de arresponder pruque eu numca vi um consserto dos Comme Restus. Tô sempre lá incima a faser figura de palhasso.



7- Ofendam, critiquem, mandem-nos à m*rda mas… O que acham da ideia do ANYMAIS?

FG – Ê tanho um plano do caralho. Perimeiro vocemeceses pegam na voça sêna do blógue e métãe um letereiro há porta a diser “trespassa-se e o caralho”. Adepois vãe um gaijo interessado, tás a vêr?, e vocemeceses amandam-lhe cum negócio do jénero: “pás, metes cá guita e a malta descurte isto e tu pegas nisto e vais pá cona da tua mãe”. Mas tudo numa báse de negócio e cunversa de guita e o caralho, mordes? Sãe dar muinta cunfiança. Adepois o gaijo vê e o caralho e lárga a guita que neim um conassa. Vocemeceses pégam na guita e fojãe co nóme da revista pra otro sítio. Fodasse, inté já me istou a vir só de pemsar na cara do gaijo que largou a guita e voceses não e o caralho. Agora vô cagar que tou á rásca.

HS - Eu curto muito o vosso blógue. Se eu soubeçe ler axo que não ia gustar tanto… Mas gosto de ver os desanhos. Isso não deve é dar dinheiro nenhun.


Enfim... só mesmo eles...
O € comanda as operaçõe$


Esta semana o Euro Milhões já vai em 96 milhões.
Bem me dava jeito para comprar 1 casa nova, para comprar 4 carros topo de gama, 'comprar' pessoas, enfim...
Mas não, eu nem acho que o dinheiro traz felicidade, é tudo pura ilusão.
E ao mesmo tempo não quero que o jackpot saia a ninguém para que um dia me possa calhar a mim e eu enriquecer de um dia para o outro.
Como pode haver respeito pelos mais necessitados, incentivos de ajudar os mais pobres, fazer o pessoal acreditar que somos todos iguais e detentores do mesmo poder... quando nos fazem cobiçar a todo o custo um prémio que nos pode mudar a vida radicalmente do dia para a noite?
Como posso eu desejar ganhar um 'troféu' destes quando à porta da minha casa tenho do lado direito um cão doente sem água para beber em 40º de calor e do lado esquerdo um 'vagabundo' a dormir numa cama de papelão com 1 saco cheio de pão da semana passada para comer?
Como podem os concursos televisivos oferecer dinheiro por 1 resposta certa? Dinheiro...desculpem...err...milhares de dinheiro? Guita, muita guita...
Como posso eu responder que o Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal e ganhar assim de enfiada 500 cts??? Como posso eu errar a pergunta e o apresentador reformula-la varias vezes, abrir-me os olhos ao ditar a alínea correcta, ainda me dar a hipótese de eu utilizar uma ajuda para ganhar o prémio...e no final vou para casa no meu novo PEUGEOT 206 com 2 bilhetes para o México e uma casa nova totalmente mobilada?
E como posso eu estar aqui a escrever tanta merda para no fundo o pessoal ler, dizer 'ya, ele até tem razão' , sair daqui e ir a correr apostar no Euro Milhões?
Como podem as pessoas deixar isto passar ao lado e nem se preocuparem minimamente com a merda em ue nos estamos a afundar? Será que se o prémio sair a um português tudo vai ficar de repente colorido? Como na altura da EXPO? Ou na altura do EUROPEU de 2004? Ou quando o Salazar & Caetano cairam e surgiram outros tantos 'iguais'?
Ai, se eu tivesse essa guita toda... nem sei o que faria com ela.
Pois não, nem eu sei... mas sei que consigo viver sem ela e sem a ilusão de 'viver num sonho' desse calibre. Sonhar é bom mas quando cai em pesadelo é que é pior. Ter essa fortuna e não saber usar quando há pessoas sem frio e nada para comer a desejar apenas ganhar num ano os meus humildes 400€ mensais (!!!)... Deixa-me a pensar... será que esses 96 milhões fazem mesmo tanta falta a uma pessoa apenas?

Mas ok, não vamos pensar no dinheiro... ninguém cobiça o prémio... Ninguém vive em função da guita, do carcanhol, do pastel... O dinheiro não traz felicidade. E eu nem jogo porque não quero que o prémio me saia a mim. Será?

Por favor... Abram os olhos...

O € comanda as operaçõe$ ...

Sunday, July 17, 2005

http://www.grita.pt.vu/


Mais um website de intervenção, de divulgação, sem censura e sem limites.
Tive conhecimento do mesmo 'só por acaso' no ZONA PUNK e quando dei por mim já eles andavam a fazer publicidade a este humilde ANYMAIS.
É sinal que é pessoal com vontade de divulgar a cena dê por onde der e novamente...sem limites.
A todos os seus colaboradores... obrigado pela divulgação e pela iniciativa de fazerem algo mais pela 'cena'.

Dêm por lá um saltinho em http://www.grita.pt.vu/ e apoiem este tipo de iniciativas que só enriquecem as nossas ideias.

Um abraço a todos.

A propósito disso... fiquem atentos que esta semana vamos ter mais 1 'grande' banda a ser entrevistada pelos ANYMAIS.

PUNK'S NOT DEAD... DIY!!!

Friday, July 15, 2005

PAYASOS DOPADOS

…a começar uma revolução interior…


Certo dia fui tocar a Évora com a minha ex-banda AN X TASY.
Foi um concerto simples num dia simples igual a tantos outros.No final aconteceu algo bizarro, pelo menos para mim na altura.
Chegou-se ao pé de mim uma quantidade considerável de ‘músicos’ para trocar maquetes, contactos, etc, de forma a estabelecer contacto entre a ‘cena musical’ de Évora e a de Faro.
Foi nessa mesma noite que conheci pessoal bastante humilde e interessante como os KARSERON, PROCESSO OF GUILT, SIGMA, CORROSÃO SOCIAL e… PAYASOS DOPADOS.
Tive ao meu lado um ‘jovem’ de 37 anos que toca numa banda ska-punk política e anarca e que continua com força para tentar fazer algo pelo mundo que nos rodeia.
Esse 'ser' chama-se PABLO e é apenas o vocalista-guitarrista dos PAYASOS DOPADOS, uma banda argentino-espanho-lusa.
Desde aí foram-se criando fortes laços de amizade entre mim e o Pablo que duraram até hoje. Mais tarde lançamos um split cd entre PAYASOS DOPADOS e (the) HIGHEST COST, que esgotou todos os exemplares no espaço de uma semana.
Já tive a oportunidade de pisar o mesmo palco que o Pablo por várias vezes na mesma noite e isso fez com que cada vez mais me apercebesse da grande pessoa que é e das lutas que partilhamos em comum.
A música pode não mudar nada (mas muda!) e nós podemos não chegar a lado nenhum (mas acreditamos…e chegamos!) mas o que conta é que ainda temos gente de outro escalão com os mesmos ideais que nós e isso para mim é uma batalha ganha.
Será que eu com 37 anos ainda vou ter a mesma força que o Pablo tem para continuar a lutar?
Espero bem que sim.
AMERIKA LATINA VENCERÁ!!!



1- PAYASOS DOPADOS em português significa PALHAÇOS DROGADOS... Qual o significado de um nome tão bizarro como este?

Em espanhol tem a mesma interpretação, mas o nome surgiu um dia em que eu me mascarei de Palhaço para a festa do meu filho, e os miúdos se assustaram de mim. Por isso foi uma mistura de medo e alegria, de associar a um palhaço/inocência/alegria com drogas/dor/obscuridade etc. Mas pelo lado cientifico, por assim dizer, a palavra «dopado» vem da dopa mina e a dopa mina é um neurónio transmissor do nosso cérebro (sistema nervoso central) que está associado ao prazer (sexual, sensorial, etc.). Muitos dos componentes das drogas (marijuana, cocaína etc) têm uma forma molecular muito similar à estrutura da dopa mina, portanto de ali vem o termo dopado associado a drogado, mas todo o tempo nós produzimos a dopa mina. Sem ela entraríamos em depressão, portanto a dopa mina é uma droga interna nossa vital!!!



2- Ao ler as letras que se encontram no vosso cd A.T.A.C.A. constatei que falam de temas relacionados com a anarquia, auto-gestão, revolução interior... Queres-me explicar um pouco o significado destes tópicos?

Vou tentar dar uma aproximação a todos estes tópicos. Os três estão unidos. Falo de anarquia porque a anarquia é aquilo que se aproxima mais àquilo que eu penso e aos ideais que acho que são mais dignos:SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA SOCIAL, IGUALDADE (Raça, Sexo etc.), LIBERDADE.Isto tudo alcançado pelo caminho da Paz, já que a guerra foi sempre e será um negócio para os mesmos, o povo fica com os mortos a sangue, a destruição, a dor, e uns poucos com a guita das vendas das armas, com o negócio da construção da nova cidade, com o poder para governar em forma aparentemente indirecta a nova sociedade logo duma guerra. Enfim, tudo aquilo que sempre se está repetir no mundo todo.Mas para alguma vez poder chegar sequer a um começo daqueles tópicos tem que haver primeiro uma revolução interior. Tu, eu, nós, temos que mudar a nossa forma de pensar e a nossa forma de ver o mundo, tem que haver uma mudança profunda no nosso interior de dentro para fora.Na nossa sociedade actual diz: ‘se tu estás bem, tens trabalho, um carro, uma casa e vais de férias, etc, tudo está ok; se os outros não têm nada é problema deles, do governo, do estado etc, eles não têm porque não querem e bla bla bla’. Portanto pensa em ti e caga em tudo, pois tu sozinho não podes mudar nada, enfim toda a conversa que já sabes.Agora no nosso planeta «vivem» 6000 milhões de pessoas, das quais só 1000 milhões vivem dignamente… e os outros 5000 milhões? Achas justo estarmo-nos a cagar para tanta gente? Podes ignorar o sofrimento de tanta gente, podes seguir tranquilo na vida sem fazer a mínima coisa para melhorar algo? Uma das formas de isto tentar melhorar é a auto-gestão, porque a mesma não depende da politica nem do poder, já que politica e poder levaram o mundo à merda em que está e vão continuar a levar. Quem luta pelo poder não é um revolucionário, é um político metido na pele dum revolucionário.A auto-gestão faz com que pequenos grupos organizem o seu meio, fazem a gestão da comida e do emprego, os impostos que eles achem necessários para aquela determinada sociedade etc. Mas isto implica um compromisso, muito sacrifício, solidariedade e muito valor para mudar o nosso meio… e a nossa sociedade actual está no outro extremo disto tudo, tem medo de mudar, temos uma mentalidade fechada.



3- Ainda tocando no vosso conteúdo lírico... a que diz respeito a letra CHE DE BARRAS?

O Che de Barras é aquele gajo que no bar, bebe dois copos e pensa que sabe tudo, fala de tudo, critica tudo e todos e ‘resolve’ o mundo dentro do bar.O Che Guevara entra aqui em forma indirecta; ele agora é um ícone da nossa sociedade capitalista, aquela sociedade contra a que sempre lutou. Este gajo não morreu para ficar na tua t-shirt !!! Morreu pensando que no mundo havia gente que seria capaz de denunciar as injustiças todas, de lutar para melhorar o mundo, não para vender só lembranças do Che nas tascas da juventude comunista.Nós devemos aprender dos erros e das vitórias do Che, igual às de Durruti ou àqueles todos que morreram no mundo para melhorar as coisas.A luta continua sempre que adaptemos a luta ao nosso tempo, aos nossos meios, mas se deixarmos de lutar porque a coisa está difícil, vamos ser uma sociedade morta e sem vida.


4- Para quem ainda não vos conhece... vocês assumem-se como uma banda da Argentina mas dois elementos residem em Espanha e tu vives em Évora, Portugal. Queres-me explicar um pouco esta internacionalização?

Nós dizemos sempre que somos uma Banda Argentino/Espanhola, só que nos cartazes dos sítios onde vamos tocar os organizadores do concerto metem só ‘Argentina’; acho que fazem isto pensando que é mais internacional vir da Argentina do que de Espanha…?!?!? Eu moro em Portugal há 4 anos e a banda tem muita influência portuguesa; Portugal ó o sitio onde mais vezes tocamos ao vivo (28 contra 22 em Espanha). No fundo é igual; se as letras falam de anarquia e metemos à frente que somos argentinos/espanhóis ou meio portugueses estamos a contradizer tudo porque não interessa de onde vimos, o importante é para onde vamos.


5- Há quem diga que a musica é uma arma e que não basta apenas saber tocar como saber exprimir-se através do lirismo adjacente ao conteúdo musical. De que forma consideras-te uma peça importante neste jogo governamental a que todos estamos submissos? De que forma consideras que a musica dos PAYASOS DOPADOS é importante para mudar alguma coisa e o que fazes para além da música que consideres importante para atingir alguma meta nesta sociedade?

A música Punk-Ska na sua origem nunca foi para divertir, foi para denunciar e para romper aquilo que estava estabelecido naquele momento.O Ska, por exemplo, que hoje está associado pela maioria como música de festa e baile, a sua origem vem do reggae, do calipso. Só que o ska era mais rápido que os outros, mas as letras tentavam sempre mostrar e denunciar o que acontecia nos bairros mais pobres. Logo com o tempo e com a comercialização do género ficou associado a diversão, mas actualmente tens muitas bandas de ska com uma forte mensagem social (skaparapid, Skalariak, até mesmo os Ska-P no princípio).Eu não posso só tocar para me divertir, seria reduzir a nada tudo aquilo que penso. Se a função da arte é para divertir ou para decoração, estamo-nos a cagar, voltamos a ser mortos vivos. A arte transmite emoção, sentimentos, ideias e tentar sempre romper com os esquemas rígidos estabelecidos. Se alguém está na musica para engatar miúdas, para se divertir ou para ganhar guita, o meu conselho é que essa pessoa deixe a musica ou a arte à qual se está a dedicar. Todas estas coisas te podem acontecer no ambiente mas esse não é o fim, não fiques cego com vaidades efémeras.Eu não sou uma peça importante, se eu me considerasse uma peça importante estaria num sítio de poder, há que romper a escravidão do poder, não há líderes, todos devemos ser importantes na luta, não depende só de uma pessoa.Se as musicas de Payasos Dopados podem tocar no interior de algumas pessoas já está atingido o nosso objectivo.Sabes, há duas semanas recebi um mail de um rapaz de Argentina que tinha ouvido Payasos e que gostava imenso… Enfim, enviei-lhe um CD com as musicas todas e o rapaz escreveu-me agradecendo e ficando feliz por tão pouca coisa; também ontem um gajo de Mellila (Marrocos) dizia estar a ouvir Payasos dopados que gostava, etc. Sempre me estão a chegar mails assim e eu fico surpreendido porque nós não temos nada de difusão, tudo é de boca em boca.Aquelas musicas que eu fiz na minha casa, na solidão de meu quarto, tocam alguma coisa no gajo do outro lado do mundo e não porque a MTV diz que esta música é fixe hoje. Estas coisas entre outras fazem com que continue a tocar.Alem da música sou Musico-terapeuta, trabalho com miúdos autistas, deficientes físicos e mentais; também estou num projecto no estabelecimento prisional de Évora onde fazemos musica com os detidos dali. Enfim, sempre com a música, eu escolhi este caminho e tento ajudar em tudo enquanto for capaz.


6- Aí em Évora, pelo que sei, assim como em Aljustrel e outras regiões do Alentejo, ainda vão havendo algumas bandas punk anarcas como CORROSÃO SOCIAL e DPE, etc. No Algarve são poucas as bandas que optam por seguir essa vertente. Consideras a anarquia em vias de extinção ou achas que continua tão forte como sempre mas cada vez menos ligada à música?

Sim, é verdade, onde há filhos de trabalhadores e trabalhadores há uma semente de anarquia de desprezo ao poder. Onde entra o dinheiro não passa de uma moda. Então hoje todos somos fantoches do HIP-HOP, do New Metal ou da merda que está na moda como ontem fomos do Punk.Tu podes ser um punk com cartão de crédito, comprar roupa rota e meter uma crista de galo enorme mas serás apenas um gajo disfarçado de punk e não um verdadeiro punk.A anarquia é uma forma de viver e de ver o mundo, ou tás dentro ou tás fora, a escolha e pessoal.O nosso planeta está em vias de extinção mas a anarquia estará sempre ali.O universo é uma anarquia (sem um governo que diga aquilo que fazer ou uma lei fixa a seguir), o capitalismo derivado do colonialismo não tem mais de 500 anos e eu acho que não vai aguentar-se por mais de 300. Por tanto há-de sempre existir anarquia.A falta de chuva, a seca, a falta de comida, a fome, essas coisas são importantes e não estamos a fazer nem a exigir nada para mudar esta realidade.

7- Por falar em anarquia e voltando ao tema da auto-gestão... o que significam para ti estes dois tópicos? De que forma sentes que a Anarquia e a auto-gestão poderão solucionar alguma coisa?

Estão as duas relacionadas e são a força e as ideias a fazer um caminho.A anarquia faz tomar consciência que não necessitamos de políticos ou de política para organizar as nossas vidas. A autogestão é o meio prático para por em marcha as ideais libertárias.



8- Fala-me um pouco da situação política na Argentina e em Espanha e compara-a a Portugal...

Por lógica, eu aqui estou melhor do que na Argentina, não tanto a nível económico mas sim a respeito de segurança e tranquilidade.A política é a mesma merda nos três países e no mundo inteiro. Hoje está um bocado melhor aqui e amanhã ali… Sabes que na Argentina no ano 2000 o Iva era de 19% e foi para 21% para melhorar as contas do estado e para com esse dinheiro pagar aos mais pobres!!! No entanto isso nunca chegou a acontecer e no ano 2001 explodiu tudo e morreram mais de 50 pessoas no levantamento popular mortos pela polícia, caiu o governo e agora aparentemente melhorou a coisa… mas por quanto tempo? A política faz com que o café que tu bebes, que se produz no Brasil, o camponês que o cultiva receba uma miséria pelo café e que na sua terra tenha proibido cultivar outra coisa. Portanto com a miséria que ganha tenha que comprar o arroz e os feijões num supermercado duma multinacional porque é mais barato!!! Isso é política, que alguém nalgum sitio decida pela vida de milhões, portanto a politica é uma mentira, é uma ditadura.Que hoje Espanha está melhor, Portugal pior ou Argentina a melhorar… não é um facto verdadeiramente real! Amanhã alguém diz que aquele deve estar pior para ele aproveitar e fazer os grandes negócios que as crises deixam.



9- Ainda me lembro quando tinha os meus 16 e 17 anitos, ia aos shows de punk-hardcore e tava lá um monte de gente a vender zines e a distribuir flyers para tentar passar mensagem daquilo em que acreditam. Hoje em dia são poucos os que o fazem e quando o fazem por vezes não conseguem atingir ninguém. Achas que a musica por si só é o meio mais forte para se alcançar algum objectivo ou pensas que o desaparecimento da ‘tradição das zines’ é um passo para trás nesta luta?

Foi a moda dos fanzines, não? Volto a insistir, se alguém faz alguma coisa só pela moda, porque está na crista da onda, de certeza que vai cair no esquecimento. Cada um de nós deve chegar ao fundo das coisas, deve perguntar seriamente porque vai fazer aquilo e qual o sentido. Qual é a origem disto? Para quê? A fanzine é um meio alternativo e livre dos medias, é uma forma de expressão totalmente livre. Portanto alguém que faz isto tendo a certeza absoluta não vai passar a moda vai continuar porque sabe que aquilo em que acredita está certo e tem uma finalidade que é maior do que a recompensa material. Ganhar ou perder guita são os termos mais capitalistas que temos dentro de nós. Usa a imaginação, faz autogestão do teu projecto, faz tudo aquilo para seguir naquilo que acreditas, até que seja uma realidade ou até que já não acredites mais nisso.



10- Quando começaram os PAYASOS DOPADOS e onde os vês dentro de 5 anos?

Começou em 1999/2000 na Argentina. Em 5 anos seguir tocando onde quer que seja. O mundo é muito grande, sempre se pode mudar de sítio e de mentalidades velhas.Obrigado a ti Rafael pelo apoio e um grande abraço para todos os (the)Highest Cost.

PUNK-KECAS 2005