Tuesday, June 20, 2006

Números



Farto da rotina e de expressões que se tornaram tão banais no nosso vocabulário... decidi ir à conquista de outra psicose mental: os números.

Quantas vezes não somos confrontados com números que, em 99,95% dos casos, nos lembram uma determinada situação? Quantas vezes não nos lembram um número e a nossa mente vai atrás de uma situação que nos faz lembrar esse número? Serão os números algarismos ou meras palavras como 'coisa' ou 'isto' ou 'aquilo' quando são empregues de forma tão banal e desnecessária quanto a saliva gasta nessas ocasiões?

Ora bem...

O número 1; é o numero da felicitação e reconhecimento.
Quem não curte ser o primeiro num determinado torneio?
Quem não curte ser o primeiro de uma empresa e gerir o negócio à sua maneira?
Quem não curte ser a primeira pessoa a quem confio um segredo?
É o número do estar à frente de todos os outros; de tudo o resto.

Já o número 2 é o oposto; é o número da consolidação.
Ninguém gosta de ficar em 2º numa corrida; ninguém gosta de ser 2º numa escolha porque significa que se o primeiro não tivesse recusado o pedido este '2º' não teria a benesse de receber o mesmo convite.

Já o 3 é o número da ênfase gramatical.
'Já é a 3ª vez que te aviso'; 'à 3ª é de vez' ou 'não há duas sem três'.
É a altura em que damos a entender que estamos quase a rebentar com determinada situação; que perdemos a paciência.

Depois saltamos para o número 5 e vêm os condutores.
Tiraram a carta de um pacote de cereais, não sabem nem o que significa o sinal de 'cedência de passagem' mas sabem dizer 'Até te dava boleia mas o meu carro só leva cinco...'.
É a desculpa mais improvisada (mas eu também a uso).

E vem o número 7; o número da mentira.
Para quem ainda não notou, quando voz fazem uma pergunta em que vocês têm de fazer um cálculo mental e mandar uma 'posta de pescada para o ar' vem sempre o número do Luís Figo à vossa cabeça. Isto está provado científicamente; quando te perguntam quantos cd's de Metallica tens dizes logo 'Tenho praí uns 7'. Logo começas a notar.
E este já deve ser praí o 7º parágrafo que estou a escrever; mentira, enganei-me outra vez.

O número 8 a muitos lembra a 'bola preta' de uma mesa de snooker'.

O número 13 o dia do azar.
Porque é que a sexta-feira tem de ser o dia do azar (e muitos nem compreendem o seu significado)? Porque é que podemos ter 364 dias do ano que nos correm mal mas só notamos o azar na sexta-feira 13? Muitos filmes, meus caros.
Tudo corre mal o ano todo, não é só a sexta-feira, véspera de sábado 14!

O número 31...
'Tás metido num belo trinta e um, tás.'

O número 69 faz lembrar uma posição sexual (assim como o 3 faria lembrar um ménage).

O número 666 é o número da besta.

Enfim... a nossa mente consegue produzir uma quantidade de testosterona tão grande que nos leva a utilizar números tão banais para identificar situações tão 'sem nada a ver' que por vezes penso que estes números não sejam nada mais nada menos que falta de originalidade para os empregar.

Quanto a mim vou trabalhar porque já estou 8 minutos atrasado.

Saturday, June 10, 2006

Entrevista ao Ludgero (City Scum, Broken Distance, Rat Attack; TAKE THE RISK)


Decididamente voltei ao feeling de entrevistar pessoal. É sempre bom conhecer gente nova, ideias novas; e a partilha de ideias muitas vezes serve para se conhecer melhor aqueles que nos são mais próximos ou pelo menos para ver e discutir diferentes pontos de vista de forma a chegar a uma base informativa mais ampla e ao alcance de todos.
Desta forma decidi falar com um 'jovem' bastante próximo de mim, com o qual já partilhei uma sala de ensaio, algumas bandas, alguns palcos e, desta vez, umas ideias. Membro da promotora TAKE THE RISK e baterista das bandas City Scum, Rat Attack e Broken Distance, foi numa simples conversa de MSN que chegámos a isto que aqui vos apresento.
Boa sorte para todos os seus projectos (bastante interessantes até!) e para a nova 'vida de estudante' que encarou, ehehe.


1- Antes de mais nada, fala-me um pouco dos projectos em que estás envolvido e o que significa cada um para ti.

Broken Distance nasce de Get Lost que foi a primeira banda k tive.. é mais melodico e temos outras influencias mas é uma banda onde adoro tocar e ensaiar porque são os meus melhores amigos. Demos o 1º concerto esta quinta-feira com Icepick , Synead e Rat Attack e foi bom.
Rat attack e City Scum são projectos com o Poli e o Miguel de Quarteira; City Scum é aquele punk rock à Rancid enquanto que Rat Attack vai buscar aquelas influências xungas do Black Flag antigo, Bad Brains e Cro-mags.
Entrei para Kontrattack depois do Rafa ter ido para Barcelona e é a cena mais pesada onde estou no momento, uso pedal duplo e é um estilo diferente; os ensaios são divertidos e é a banda mais antiga a tocar no Algarve.
Já tive outros projectos que me ajudaram a desenvolver bué como Highest Cost em que se ensaiava todas as noites e eram como aulas para mim.
Fui da formação original de 100 Surrados, fiz duas datas com Pointing Finger e toquei no reunion show de What Went Wrong.

2- Não sentes que o hardcore que foi vivido na decada de 90, com bandas como time x, new winds, x-acto, e ate mesmo os what went wrong... se perdeu hj em dia? Já não há aquela cena da youth crew, as zines nos shows, os benefits... morreu tudo um pouco, nao achas?

Morreu.. hj já ninguém tem orgulho em fazer um X na mão ou falar coisas bonitas nos concertos.. Axo que na altura isso era moda.. agora a moda é outra.. lamento dizer mas axo que todos seguimo-nos por modas quer queiramos quer não.. nessa altura era moda ser vegan e falar bem.. agora é moda moshar e comer bifes.. pá, agora tb há muitos mais estilos que antes.. o metal core veio dar uma grande reviravolta nisto tudo; depois o pessoal farta-se de tocar sempre os mesmos 3 acordes e partem para outros campos.
Tipo, aconteceu aqui o que aconteceu nos EUA no fim dos 80s; acho que todos curtem de exprimentar sonoridades novas e diferentes.
Não critico ninguém por isso.. eu não oiço só hardcore ..

3- E o q me tens a dizer à falta de zines e benefits?

Desleixo, falta de tempo, falta de sangue novo , falta de incentivos..
Benefits é muito giro e não sei quê; eu por mim fazia muitos benefits.
Quando toco é raro ganhar dinheiro, aliás, das vezes que toquei aposto que só fiquei com dinheiro ao fim da noite umas 5x e já dei uns quantos concertos.
O dinheiro vai sempre para o aluguer da sala , do som , para pagar às bandas de fora; e nem se vai aqui falar de publicidade e de jantar porque se vamos tirar dinheiro para issoo, então é para esquecer mesmo.

4- À pouco falavas do pessoal já não seguir os 3 acordes e andar a explorar outros campos... ao mesmo tempo falas de se perder um pouco o inituito da mensagem... Mas há bandas como os Earth Crisis, Heaven Shall Burn e Arkangel que conseguiram explorar outros campos mas sem esquecer o intuito do hardcore: a mensagem... ou não?

Já não há muitas bandas políticas hoje em dia .. na minha opinião a melhor banda político/vegan que houve foram os Good Clean Fun porque conseguiam brincar com os temas de uma forma muito real e directa ! Tocavam os 3 acordes e era bué divertido.. em relação a essas bandas ditas new school / H8000 / Victory seguiram uma onda mais metal não esquecendo a mensagem.. mas também acho que o hardcore não é só sobre política.. acho que acima de tudo é sobre divertimento, amizade, união , juventude , merdas que fazemos.. Por exemplo, o Start Today de Gorilla Biscuits é considerado o melhor disco de hardcore porque tem malhas melódicas, malhas mais agressivas, mas tem também letras políticas e letras pessoais; podes ler um New Direction sobre o pessoal que vai fugir aos 3 acordes, ou um Standstill que acaba por ser superpolítico em que critica o facto de estares agarrado à tv e não fazeres mais nada, ou um Degradation que fala do white pride e bla bla, ou um Competition da competição entre as bandas; é por issu que o Start Today é lindo! Acho ridículo Gorilla Biscuits voltarem a fazer tour quase 20 anos depois.
Sei que fugi um pouco ao assunto, desculpa.

5- Agora vou-te colocar a mesma questão que coloquei aos Ho-Chi Minh... O que me tens a dizer de bandas que falam de política e de ir contra o estado, impostos, etc... e depois pedem cachets exorbitantes para tocar? Falam de miséria, de gente a morrer à fome e depois pedem cachets impossíveis de promotoras como a nossa e a vossa cobrirem?

se calhar essas bandas pedem uma quantia mais elevada pk tem outros compromissos como os elementos da banda tem uma casa para sustentar e não andam a tocar so pelo amor.. são bandas k ja passaram para um patamar mais acima e o DIY ja não lhe diz mt..
os managers e editoras mts vezes tb guita ao bolso e a banda dps fica mal vista.. pah sei lah há bué factores em causa para esta resposta..

6- Fala-me agora um pouco de outros compromissos que sei que assumiste e os quais defendes com toda a convicção: straight edge, take the risk, hardcore... O que significa cada um pra ti?

Straight edge é um rotulo para um estilo de vida que levo sem drogas; tento ser positivo o mais que posso mas nem sempre isso é possível.
Take the Risk é um grupo de amigos que se junta para organizar concertos de hardcore e distribuir alguns discos; desde já está a correr fixe, temos feito concertos bons, mas sem a ajuda do pessoal de fora nada era possivel, sem a ajuda do público que vai aos concertos e compra, de ti que fazes sempre o som nos nossos concertos, das bandas com as quais temos estabelecido contacto e que até agora foram todas super impecáveis e não vieram com facadinhas para a net como aconteceu com a I CAN C U ou com a SPEAR.
Hardcore é um estilo de música associado a um estilo de vida, straight edge , não straight edge , vegetariano , comedor de animais, gay , fufa, tudo tem lugar no hardcore , é musica , é divertimento , é pensares por ti próprio.

7- Sei que não sou a melhor pessoa para colocar esta questão mas que tens a dizer de um gajo por vezes usar certas características humanas para ofender outras como 'pareces um deficiente', 'paneleiro de merda' ou 'a tua mae tá com um preto' e no final assumirem-se como anti-homofóbicos, anti-racistas, etc?

Pá, eu axo que essas afirmações são ditas a brincar ou sem pensar .. não é com a intenção de ofender os deficientes ou os pretos.. pá, são cenas que fazem parte da nossa sociedade e tu cresces com isso e depois não consegues evitar de as dizer.. pá, eu não sou homofóbico nem racista mas não curto desses kosovares macacos que andam aí a roubar e não sei quê ou de um grupo de negros que assalta jovens no metro, por exemplo.

8- E o que tens a dizer da expressão triste e infeliz, pelo menos para mim, do 'aquele gajo caiu' quando alguém começa a beber? Porque não dizer 'aquele gajo levantou-se' se for num sentido de um gajo fazer aquilo que gosta e deixar de se sentir straight edge?

É uma expressão que foi adoptada; não foram os x-acto nem os new winds que adoptaram essa expressão, esta provavelmente já vinha de Washington D.C. .. Eu para mim tanto me faz se o Manel bebe ou se o Joaquim fuma.. É claro que há sempre akele cusquice e não sei quê.. eu acho que cada um deve fazer akilo que acredita .. eu agora não bebo, não fumo nem como carne e sinto-me bem .. normalmente quando sei que alguém "caíu" não me causa muito transtorno ..
Era pior se me dissesem que a pessoa tinha morrido de acidente ou assim.
Acho que cada um deve fazer aquilo que gosta e que acredita e não deve ser empurrada a fazer coisas que não gosta para agradar terceiros.
Eu agora faço akilo que gosto , daqui a uns tempos posso gostar de outra coisa, a vida dá mil voltas.
Em relação a falsos amigos que te deixam de falar quando cais e bla bla bla.. É porque na realidade não eram teus amigos e só se davam contigo por interesse.. nunca fiz isso e acho super lamentável.. claro que, de vez em quando, em brincadeira, pode sair akela palavra "caído" mas foda-se, se formos amigos não é o straight edge ou o hardcore ou a cona da prima que faz com que uma amizade acabe á toa.
Falo por mim, claro.

9- Voltando à parte musical... tocarias num palco principal de um SUPER BOCK ao lado de bandas como Deftones, Korn e Limp Bizkit? Seria uma boa forma de passares a mensagem a mais pessoal mas por outro lado eras rotulado de 'vendido'. O que farias nesta situação?

Tocava pois.. Mostrava aquilo em que acredito sem vergonha.. Os Quicksand do Walter de Gorilla Biscuits andaram em 98 em tour com Deftones; o som não tinha muito a ver e muitas das vezes não tinham a reacção em termos de público como tinham os Deftones, mas fizeram as cenas à maneira deles. Tocar em Get Lost já me proporcionou uma viagem de uma semana aos Açores com viagens pagas + casa ao lado da praia .. e get lost é hardcore.
E estivemos com Pointing Finger a tocar lá nos Açores no 'Acção Directa' que se organiza todos os anos. É claro que a mistura de bandas de estilos diferentes por vezes torna-se numa situação bué estranha.

10- Para terminar... diz-me o que te falta atingir como músico...qual a meta que pretendes alcançar para te sentires 100% bem contigo próprio?

Maturidade. Saber tocar a abrir não significa nada , não toco a ponta dum corno , não quero seguir uma carreira musical e tentar ser o melhor , quero fazer aquilo que gosto , mas há muitas cenas que oiço que gostava de um dia saber tocar; a meta é continuar a tocar , não importa o estilo , desde que eu goste.


Playlist (do Ludgero):

Mental - Planet Mental
Elliott - False Cathredrals
Kill Verona - Trauma

Saturday, June 03, 2006

HO-CHI MINH
* de Beja à conquista de Portugal *


Ho-Chi Minh é actualmente um nome de respeito em Portugal. Um projecto que renasce das cinzas dos Blast, outra banda que tanto furor causou no nosso país.
Já há muito que não entrevistava bandas para o meu blog e decidi entrevistá-los acerca da grande assiduidade que têm tido um pouco por todo o país ao actuar desde bares a semanas académicas, passando por alguns festivais.
A conversa foi feita com o vocalista João onde se tocou em assuntos como a ligação com o antigo projecto Blast, objectivos atingidos e por atingir e até mesmo o rompimento com a editora Adrenalina devido a 'problemas técnicos com o responsável pela organização das tours'.
Aqui ficam esses momentos.

(Há que ter em conta que a entrevista foi feita no dia após a sua mais recente passagem pela Associação de Musicos, no dia 17 de Fevereiro de 2006, que contou com a presença das bandas HILLS HAVE EYES, UNFAIR e PROJECTO 103. Pode estar um pouco desactualizada mas nunca é tarde para a divulgar. Já para não dizer que nunca, até hoje, o palco secundário da Associação teve uma enchente tão grande [233 pessoas] como nessa noite. Inesquecível!)



1- Acabei de presenciar um dos melhores shows de sempre que vi no nosso palco secundário. Nunca vi uma adesão tão grande quer em numero de pessoas, quer em feeling ao pé do palco. Descreve da melhor forma como viste o show...

R: Nós vimos o concerto do sítio mais previligiado de todos, o Palco, e foi sem dúvida a nível de adesão o nosso melhor concerto de sempre, superando aquilo que nos parecia já impossível que foram os dois concertos do avante, que tinham sido espetaculares... Ficamos muito surpreendidos com tamanha adesão e só temos que agradecer a todos os que tornaram aquele concerto possível. A partir de hoje Faro tornou-se a nossa segunda casa, pois nunca tinhamos sido recebidos daquela forma.


2- Vocês é a 3ª vez que vêm à Associação e todos os shows foram demais. Mas este foi até à data o que teve mais adeptos ho-chi-miniacos, uma verdadeira loucura... De onde achas que provém tanto 'sucesso'?

R: Ainda hoje, não percebemos o que se passou ali, pois criou-se uma atmosfera espetacular. Continuo a dizer que “drogaram” as pessoas (hihihi)...
Esse “sucesso” só pode ter vindo dos muitos concertos que já demos no algarve e dos muitos “adeptos” que temos indo amealhando e que desta vez resolveram todos aparecer...


3- Sei que quebraram recentemente um acordo que vos ligava à Adrenalina. Que se passou afinal?

R: Existiram alguns problemas técnicos com o responsável pela organização das tours, falhas essas q nós não gostamos de ver repetidas e fomos obrigados a quebrar o nosso acordo com eles. É de realçar que a nível institucional não temos nada a apontar a Adrenalina, mas também não estávamos dispostos a continuar a marcar e desmarcar datas, e muito menos a chegar a Bares sem saberem que nós lá iamos tocar.


4- Qual a ligação entre Blast e Ho-Chi-Minh? O que mudou? O que permanece igual?

R: Ho-Chi-Minh é a continuidade do projecto Blast, foi a consequência natural. Na fase em que Blast acabou já se tava a começar a trabalhar com máquinas e programações. Até umas das últimas músicas de Blast foi acabada em HCM. A nível de elementos da banda, só um dos elementos de Blast não se encontra em HCM, mas a nível de som, muita coisa mudou. Hoje somos músicos mais experientes e com outra orientação musical, procurando outros caminhos e outras formas de fazer música.


5- Após o 1º lugar conquistado nalguns concursos de bandas e outros troféus ganhos devido à vossa experiencia como banda, o que vos faz ainda continuar num movimento underground e tocar apenas pelo prazer sem os cachets exorbitantes solicitados por algumas bandas nacionais?

R: Nós continuamos a fazer aquilo mais gostamos, que é tocar. Quanto aos cachets, estes são consequências de editoras, divulgação e de massas que se deslocam para os concertos, nós nunca tivemos perto de nenhumas dessas coisas ao ponto de justificar cachets elevados. Acima de tudo queremos tocar, quando alguém pensa em nós para um concerto nós ficamos logo agradados, e temos sempre em consideração o tipo de evento. Se é uma escola que organiza vamos por transportes, se é uma camara pedimos caches, essencialmente procuramos nunca ficar prejudicados, pois se agradares quem pensa em ti irás sempre tirar dividendos disso mais tarde.


6- E Beja? Como aparece Beja num mapa onde as portas estão mais abertas para a capital?

R: Pois Beja aparece no mapa como sempre apareceu, uma terra essencialmente constituída por pessoas humildes e honestas que lutam permanentemente para quebrar as fronteiras da desertificação a que o Alentejo é constatemente sujeito.


7- Falando em Beja... Agora aparecem nomes bastante interessantes na vossa cidade humilde: Sordid Sight, Undercut, Cryptous Morbious Family, etc. Sentes ter algum peso no aparecimento destas bandas todas, que surgem num pós- BLAST ou achas que foi um aparecimento natural? A que consideras dever-se este boom tão 'repentino' de metal alentejano?

R: Se temos algum peso no aparecimento dessas grandes bandas, terás que lhes perguntar a eles, sinceramente acho que não; em Beja sempre existiram muitas bandas underground, custumam ser poucas mas custumam ser bandas de qualidade. Em Beja as pessoas são muito exigentes, tudo o que vem cá para “fora” custuma ser bom.


8- Voltando um pouco às questões iniciais... As bandas nacionais por norma (como se calhar deverá ser no resto do mundo) sonham sempre com grandes salas, grandes palcos, som e luz do melhor, nem que pra isso tenham de actuar perante cerca de 100 pessoas... Preocupam-se mais com a aparencia do que o feeling em si. Tu que ja actuaste duas vezes no palco principal da associaçao perante 300 pessoas e desta vez no secundário perante apenas 233 (!!!), que balanço fazes das duas experiencias?

R: Para mim um grande concerto não se faz com um grande PA nem com uma grande sala, mas sim com um “grande” público. Mais vale um palco pequeno e uma sala pequena e um “grande” público, do que uma grande sala vazia.


9- Tenho conhecimento que recentemente te tornaste Professor... Diz-me o que significa para ti terminar um curso onde podes passar a dar aulas de (diz-me o quê) e estar em cima de um palco a gritar desenfreadamente para centenas de pessoal que respeita o vosso trabalho?

R: Neste momento faço profissionalmente aquilo que mais gosto, que é dar aulas de Educação Fisica a crianças de 3 a 12 anos, principalmente aulas de natação a crianças de 3 anos. E tenho a sorte de fazer com os meus melhores amigos um dos meus sonhos de vida que é a música. A mistura entre as duas na me faz confusão nenhuma visto fazer aquilo que mais gosto. Depois de concertos como o de Faro senti-mo bastante orgulhoso daquilo que fazemos é uma sensação única, tal como ensinar uma criança a nadar.


10- Pra terminar... E num tom de brincadeira... Se pudesses enfiar o publico de Faro em qualquer parte abstracta neste planeta... onde seria?

R: Hum... um público assim gostaria de enfiar em todos os concertos portugueses de bandas underground, pois é um público assim que nos dá força para continuar a trabalhar e ter força para os muitos sacrifícios a que música obriga... Um grande abraço para ti, para a Associação de Músicos de Faro e para todas as pessoas que duma forma outra apoiam as bandas portuguesas e principalmente as de garagem.