Monday, December 25, 2006

Fábrica de moagem pode dar lugar a hotel e espaço comercial
por Rodrigo Burnay, in «O ALGARVE» (30.Nov.2006)
Projecto pode ser mal recebido pelos comerciantes da baixa e acaba com a única sala de espectáculos acessível aos músicos e grupos de teatro amador do concelho.
A velha fábrica de moagem, situada à entrada de Faro, junto à estação dos caminhos-de-ferro, poderá dar lugar a um hotel e uma zona comercial.
De acordo com José Apolinário, presidente da autarquia, a Câmara de Faro "não tem conhecimento oficial" de qualquer proposta de investimento para o local, mas o autarca admite "já ter ouvido falar no assunto" e até veria "com bons olhos" a construção de um hotel naquela zona: "Faro precisa de reforçar a sua oferta turística", disse ao nosso jornal.
COntudo, apesar de considerar o local degradado e até "um foco de risco para a saúde pública" - uma alusão à ocupação de uma parte daquele espaço por toxicodependentes e pessoas sem-abrigo - segundo Apolinário, qualquer pretensão terá de "respeitar o Plano de Director Municipal" (PDM) e só será aprovado depois de "devidamente analisado" pelo departamento competente da autarquia.
Segundo fontes de «O ALGARVE», o projecto prevê a construção de "duas torres" e "uma zona comercial". A maqueta do futuro investimento, garantiram ao nosso jornal algumas testemunhas, "tem sido mostrado e explicado, no local, aos possíveis interessados".
A designada "área comercial" pode ser uma grande superfície. Questionado sobre essa possibilidade, Apolinário considerou o «veto» apriorístico dos centros comerciais como "um assunto do passado: não podemos pôr um muro à volta de Faro e depois ver os nossos munícipes a frequentar esses espaços seja na Guia ou em Portimão, como hoje acontece". A aprovação, ou não, desse espaço, acrescentou, "dependerá da sua qualidade - queremos investimento de qualidade na cidade e esse será o principal critério de apreciação", sublinhou.
Quanto ao comércio tradicional e o seu famigerado declínio, o autarca foi peremptório: "a baixa de Faro tem de ter o melhor comércio do Algarve, tem de ganhar e afirmar-se pela qualidade".
Para Apolinário, «diabolizar» as grandes superfícies "é um mito: essa batalha não leva a lado nenhum e tem de ser ultrapassada", defende.
Músicos sem sede
A presuntiva realização deste projecto levanta um problema: na zona poente da antiga fábrica está sedeada a Associação Recreativa e Cultural de Músicos (ARCM). E não é uma sede qualquer. A ARCM dinamiza uma sala de espectáculos com cerca de 400 metros quadrados, onde, para além da realização de concertos - muitas vezes o único palco disponível para as jovens bandas algarvias se darem a conhecer - é também onde ensaiam muitos dos grupos de teatro amador do concelho. Nessa sala também se realizam diversas iniciativas, cujas verbas revertem a favor de instituições de solidariedade social da região, ou a causas, como por exemplo, o combate ao cancro. Pior, o concelho não tem outra infraestrutura equiparada.
Destaque ainda para a própria actividade da ARCM: colabora em programas de recuperação e reinserção de toxicodependentes, disponibiliza dez salas de ensaio para bandas da região; tem dois estúdios de gravação, onde, a preços reduzidos, é também muitas vezes a única via para os músicos algarvios editarem os seus trabalhos; ensina piano, bateria e viola, entre outras actividades.
Autarquia não pode apoiar
A ARCM foi fundada em 1990 e só começou a receber um pequeno subsídio da Câmara de Faro há cerca de cinco anos. Até encontrar este local, andou «com a casa às costas» por várias zonas da cidade. Neste momento paga uma renda e grande parte das melhorias introduzidas no edifício foram feitas sem apoios, contando apenas com as receitas próprias, o esforço e muitas vezes o dinheiro dos associados.
Contactado pelo nosso jornal, Armindo Silva, responsável da ARCM, confirmou a existência da intenção de construir no local um hotel, mas diz estar tranquilo: "sabemos do projecto, mas a nossa senhoria, proprietária do imóvel, ainda não recebeu nenhuma proposta de compra, por isso aguardamos com calma".
José Apolinário reconhece o "trabalho meritório" desenvolvido pela Associação, mas, para já, caso se concretize o investimento, não tem solução para a relocalização da sede da ARCM: "isso terá de passar por uma negociação entre a proprietária do edifício, a Associação e os compradores - a Câmara de Faro não pode impor outras condições aos hipotéticos investidores, além do cumprimento do PDM", sustenta.
O autarca também deixou clara a indisponibilidade da Câmara, quer de verbas, quer de terrenos, para apoiar a ARCM, caso esta tenha de abandonar as actuais instalações.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

e' inacreditavel como os responsaveis pela camara munincipal so pensam no dinheiro... gostava de perguntar ao senhor presidente se o hotel ia fazer tudo o que a associaçao faz pelas pessoas de faro. espero que corra tudo pelo melhor... era triste se a associaçao padecesse pela mao de capitalistas. :(

2:19 PM  

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