I CAN C U - entrevista
... UM dia UM sonho tornou-se UMA realidade ...
Pois é pessoal... desta vez foi a minha vez de ser entrevistado. Não percebo porquê, há gente que tem muito mais para dizer mas nunca se recusa algo que se é pedido com algum sentido... O projecto GRITA anteriormente entrevistado por nós foi agora quem decidiu rematar à baliza e resta-nos saber se marcaram golo ou não... Para isso aqui fica a entrevista... digam-me vocês se o guarda-redes estava atento ou se eles marcaram mesmo ponto. Obrigado mais uma vez ao PROJECTO GRITA por todo o empenho demonstrado...
AQUI VAI:
E esta semana temos uma conversa escaldante!
Não, não é com o Figo, nem com o Mário Soares, mas também ainda não sabemos como será a próxima semana dos Morangos com Açúcar!
Então o sorteado foi a I CAN C U(nderground), não precisa de dizer “Roda dos Milhões” ao atender o telefone, porque isto saiu na raspadinha!Então apanhámos o Rafael, de 23 anos e é solteiroooooo (é? Sei lá!), agarrem-se!!! wooow!
Vou-vos contar a história!
Era uma vez um monstro do repolho, que decidiu dar um passeio internético e encontrou um artigo na ZonaPunk (PunkPt.com) e decidiu ir ver!
E PUUUUUFFFF… descobriu o caminho encantado até à I CAN C U!!
E wOOOow!
Encontrou umas entrevistas bem elaboradas, penso que dá pra sacar boa informação acerca do indivíduo/entidade entrevistado!
Então, mas se I CAN C U (“to-t’a ver!”), porque não os vemos nós a eles?
E começou assim:
Ora então boa tarde Rafael, você acredita em Deus? Quer ficar com uma revistazinha pa ler?
1- Quem são/é o [I CAN C U]/anymais? E quais são os vossos objectivos? TUMBAS!
Boas Pedro… Então aqui vai...Essa pergunta tem muito que se lhe diga. Se formos a ver bem a I CAN C U não é nada, é abstracta e o mesmo se passa com os ANYMAIS. São duas coisas que têm bastante peso e significado na minha vida mas que por outro lado são apenas utopias mentais da minha inconsciência.
A I CAN C U provém de uma associação que nunca cheguei a pôr em prática que era a OMBAF (Organização Musical de Bandas e Associados de Faro). A OMBAF era apenas uma mini-associação que pretendia contar com bandas como LARVAE, KONTRATTACK, FULL OF NOISE (agora CONFRONT HATE) e OX Y GENIUS para se orientar uns concertos pelo Algarve e não só. Seria uma filial da Associação Recreativa e Cultural de Músicos de Faro mas noutra perspectiva. Tinha como principal objectivo a promoção e divulgação das bandas algarvias um pouco por todo o país com concertos por toda a parte. Infelizmente a ideia não avançou e ficamos por aqui. Cheguei a contar com 50 'sócios' que preencheram a inscrição mas nunca chegaram a dar os 10 'cores' necessários para se alcançar com a cena e então 'morreu' por aí, ou melhor... Ficou apenas na minha cabeça.
Os anos passaram, saltei de LARVAE para BLACK SUNRISE, depois para IN X FERIS, AN X TASY e agora para HIGHEST COST e decidi 'recomeçar' algo que nunca tinha sequer chegado a começar. Organizei um concerto na Associação de Músicos de Faro onde o cartaz tinha uma fotografia do Subcomandante Marcos do EZLN com a sua 'máscara' habitual de olhos destapados. E decidi dar um nome ao concerto 'I CAN C U'. Às tantas o concerto foi cancelado, as bandas mudaram, a data também mudou e decidi usar esse nome para o show seguinte. Como curti a ideia e como o pessoal gozava com a cena a ler 'I CAN cú' em vez de 'I CAN C U' comecei por usar essa denominação para os shows que organizo...e já foram uns quantos. Vamos a caminho do 20º show...o que já é bom tendo em conta que 'começamos' a organizar cenas desde 29 de Abril.
A I CAN C U sou eu sozinho mas não sou só eu que faço parte dela. São bandas como RENT A LIFE, PELINTRAS, UNFAIR, DIVE (queria dizer o nome de todas mas nunca mais saía daqui) e outras tantas que participam nos nossos shows... É o pessoal que cola cartazes, é quem empresta o material, quem orienta estadia para as bandas, quem toca por prazer e não por dinheiro, quem vê a musica como um escape para as suas frustrações diárias ou para a usar como uma arma, para quem gosta de apoiar a cena quer as bandas sejam boas ou não... Enfim... TU és a I CAN C U a partir do momento em que tens um http://www.GRITA.pt.vu , percebes onde quero chegar?
Em relação ao ANYMAIS... Eu tinha uma banda chamada BARBIE IS A LESBIAN MAN e as letras eram em inglês. Devido a várias mudanças na formação decidi então mudar totalmente o rumo que estávamos a levar e passamos a cantar em português com o nome ANYMAIS y RACIONAIS. Curti o nome pelo trocadilho e decidi deixar assim. Às tantas criei o blog ombaf.blogspot.com (acho eu, ehehhe) e intitulado I CAN C U. Para que o site tivesse todas as minhas 'ideias' em 'prática' decidi criar o url anymais.pt.vu.
O blog era suposto ser uma espécie de zine online onde eu pudesse escrever sobre o que bem entendesse, cenas que eu sentisse que fossem necessárias de dizer... Na verdade ainda só fiz umas quantas entrevistas e pouco mais porque os meus outros projectos do dia-a-dia não me permitem fazer mais... As bandas, a Associação de Músicos, a I CAN C U, o trabalho, a escola, enfim... faz tudo parte da minha vida e são prioridades que tenho de encarar e conciliar de forma a não deixar nenhuma para trás... Acho que é tudo...!!
2- Hum... quando falas na OMBAF, porque achas que o pessoal não aderiu para que a cena fosse mesmo pra frente?
O pessoal não aderiu pela mesma razão pela qual nem eu aderia nem tu o farias... A razão é simples, a falta de confiança demonstrada por parte de quem quer tomar uma iniciativa.
Isto é simples... Se te chegar um gajo que não conheces de lado nenhum a dizer que vai abrir uma empresa e que se tu adiantares 500€ ficas efectivo na mesma a ganhar 1500€ por mês...tu darias esse passo? Obviamente que não... Mas acredito que se um amigo teu te pedisse 500€ para abrir um negócio (imaginando que tinhas possibilidade de lhe emprestar essa quantia) e se ele te garantisse que te daria 10% do negócio todos os meses... Talvez acreditasses por se tratar dum amigo. Ou talvez não, não sei...
Enfim... Eu propus a cena a toda a gente e todos acreditaram que era um projecto com pés e cabeça só que quando se falava em entrar com os 10 'cores' de avanço o pessoal ficava renitente no sentido de 'será que vale a pena dar esse guito? O que fará ele com isso?'... Na verdade bastava 100 pessoas a dar 10 'cores' para se ter 1000!!! Com esses 1000 podia-se investir num som +/- para a Associação de Músicos (na sala pequena, claro) e mostrar ao pessoal que até se ia a algum lado... Depois vinham os amigos, os amigos dos amigos, os amigos dos amigos dos amigos...todos a querer entrar na OMBAF... Às tantas já tínhamos tudo para se começar a retribuir ao pessoal o 'avanço' que estes tinham dado.
Faltou sim confiança por parte dos 'interessados', que chegaram a um ponto em que deixaram de acreditar no projecto. Mas isto é básico de se ver as cenas... o projecto OMBAF 'morreu' mas a I CAN C U continua e já caminha para o 20º concerto em cerca de 3/4 meses... Isto significa que a OMBAF poderia estar a ir por aí também... a diferença é que com shows de 80/100 pessoas a pagar 3€ e onde grande parte do guito é para garantir boas condições às bandas de fora (alojamento, jantar, bebidas, cachet...) é difícil se 'fazer algum' para se apostar nesse projecto e tentar ir mais além... Enquanto que se todos tivessem entrado com os 10 'cores' era muito mais fácil e já tudo andava sobre rodas... Foi basicamente isso... pouco mais há a dizer... Vou continuando a fazer as coisas sozinho (mas faço!) a bem ou a mal... As vezes resultam, outras não, mas é tudo fruto do meu suor e isso, pelo menos para mim, significa bastante. Se houver mais gente interessada em ajudar só tenho mais é que agradecer. Até lá...
3 - Quando falas que acreditarias mais num amigo pra meter essa cena a correr, é algum tipo de critica ao núcleo de amigos em volta da cena musical que existe por ai?Mas a cena funcionou, de outra forma, cresce devagar!Simplesmente não tinham uma “estratégia de marketing” bem definida à partida, penso eu!Pelos vistos, tens marcado a diferença na cena musical ai da santa terra! Que tens a dizer sobre o que se passa à volta disso? Desde as bandas, ao pessoal que vai aos concertos, atitude fora dos concertos, será que o pessoal fica consciente e aprende alguma coisa em assistir a esses eventos?Que principais diferenças apontas entre antes e agora?
Pergunta interessante esta... Vou tentar ser o mais breve mas explícito possível...
Quando falei em acreditar num amigo não tinha nada a ver com critica nenhuma. Até nem era essa a intenção, pelo contrário. Eu mais depressa acreditava num projecto apresentado por uma banda de Faro do que por ti, por exemplo, não sei se me compreendes. Em Faro estou com eles a toda a hora e sei até onde posso contar com eles, até onde é 1 projecto com pernas para andar e até onde pode ser um fracasso... Eles também sabem o mesmo em relação a mim. À quanto tempo eles não me ouvem dizer que hei-de trazer THE WHITE STRIPES à Associação? Acredito intensamente nesta ideia mas eles não... tem tudo a ver com até onde conheces os limites daqueles que te rodeiam. Mas isso adquire-se com o tempo. Agora já vejo com melhores olhos o projecto GRITA e no entanto há quem o vá conhecer através de mim e ainda causa alguma susceptibilidade... É tudo uma questão de tempo e confiança. Tu podes confiar num amigo a 100% mas essa confiança pode acabar a partir do momento em que desaparece algo na tua casa na 1ª noite em que o convidaste para ir lá dormir... Há quem seja assim, há quem não o seja... é apenas 1 exemplo...
Em relação ao pessoal cá de baixo... Nota-se uma grande diferença de cidade para cidade mas quando toca ao Algarve e fora dele as semelhanças são mínimas. Não é falar mal do pessoal de cá mas penso que falta uma certa 'escola' ou 'cultura musical', como hei-de explicar?... Quando vem uma banda de hardcore de Lisboa e trazem algum pessoal com muito pogo e slamming a mistura... o pessoal de cá não encara bem isso e acaba sempre tudo mal. O slamming cá não existe e só vai aparecendo com a vinda de bandas como FOR THE GLORY, DEVIL IN ME, etc.. Aqui reina muito a onda do 'eu bebo, eu consumo drogas, eu fodo o pit'... e isso não é o tipo de hardcore que eu cresci a apoiar... Mas no entanto varia de cidade para cidade. O pessoal de Olhão e da Fuzeta são bastante unidos e quando PUNK C MANTEGA ou PELINTRAS toca vão todos atrás apoiar a banda da sua cidade; não há confrontos, nem desatinos, é tudo amigo, bebem os seus copos, cantam os refrões, vão para o mosh e corre tudo bem. O mesmo se passava com KONTRATTACK e NO TIME TO WASTE, entre outros. Só que infelizmente o país tem um mercado bastante fraco e isso faz com que as bandas tenham de tocar várias vezes nos mesmos sitios se quiserem tocar ao vivo. Uma banda de Faro chega a tocar 9 em cada 10 vezes em Faro, num ano!!! É um absurdo. Se vais ao historial de uma banda do Algarve é rara a vez em que saíram de cá... Mas isso é porque ninguém se mexe, ficam sentados à espera que o telefone toca... só que esquecem-se que ninguém tem esse número para telefonar. Cá ainda só temos a 'sair da toca' os Pointing Finger e pouco mais, mas é porque se mexeram MUITO e BEM na cena...
Voltando ao que interessa... as bandas tocam sempre no mesmo sitio, sempre as mesmas musicas, o mesmo espectáculo (sem alterar nada), o mesmo publico... chega a um ponto que o pessoal começa a deixar de apoiar e a banda que metia 200 mete agora 20 (!!) pessoas... tudo farta... e a musica não é eterna!
Depois há as namoradas, os filhos, a universidade, o trabalho, a 'disco'...enfim... é tudo uma questão de hábito e de rotina... Eu já ando nisto há 7 anos e não me vejo fora da 'cena' mas por outro lado já não colo os cartazes que colava à uns anos, já não invisto o guito que investia à uns meses e já não faço os dives que fazia ontem à noite... A diferença é que eu tinha 14 anos e agora tenho 23...!!!
Muda mesmo muita coisa…
4 - Pois, relativamente ao comportamento do pessoal nos concertos…. Queria saber se costumam falar de temas relacionados tipo com responsabilidade social, politica, etc, que pudessem esclarecer, alertar ou mostrar ao público o mundo a nossa volta, tudo o que nos rodeia. Mostrar que o Hardcore é uma escola, não é um circo! Mostrar que os concertos não servem só para ir lá curtir a musica, servem para ganhar consciência das cenas que se passam a nossa volta e aprender com isso!Pela forma como falas, parece que já viveste a cena mais intensamente do que agora (“…já não colo os cartazes que colava à uns anos…”, entre outros). Consideras isso como um afastamento, desmotivação ou tem a ver com maturidade? Já que falas, qual é a tua opinião em relação às “discos”?
Ora bem... Em relação à mensagem nos concertos... está cada vez menos presente... Já não se vendem zines, não se distribuem flyers, não se fala entre as musicas... Há bandas que me dizem 'Só temos meia hora para tocar? Então tocamos as 12 músicas de estalo sem paragens'. É triste mas real, a musica não passa disso, de musica...! Mas eu também não me posso queixar porque não escrevo zines nem distribuo flyers... Tento sim falar entre as musicas mas a mensagem não passa do palco, infelizmente. Depois é como o Congas diz...de que adianta falares quando só te estão a ver os teus prórpios amigos, aqueles que já conhecem a tagarelada toda de trás pá frente?
Em relação à mensagem das bandas eu também não posso nem tenho o direito de criticar. Cada banda fala do que sente, cada estilo de musica tem uma mensagem inerente que o caracteriza. De qualquer forma não tens uma dinamica tão activa no movimento como era à uns anos atrás, onde qualquer banda enchia uma sala, fosse conhecida ou não. Os bilhetes eram mais baratos e as salas enchiam mais facilmente. Actualmente é bastante complicado descer dos 3 / 4 'cores' o preço de um bilhete porque é necessario pagar muita coisa e quase não há aderencia...falamos de concertos de 80/100 pessoas, como já disse. Se eu tivesse a certeza que num show iria meter 200 pessoas acredita que nao passava dos 2 'cores' o preço do bilhete. Mas infelizmente isso não acontece, ninguém apoia, ninguém se interessa, a não ser que sejam bandas de amigos...e mesmo assim é só quando não têm nada pra fazer.
Pra te dar dois exemplos; fiz um concerto com 8 das bandas mais conhecidas do Algarve de Metal e Hardcore num festival de dois dias por 1 bilhte unico de '5 cores'... contava com as 300 ou 400 pessoas e so foram 210 (!!!), é bastante complicado hoje em dia; o segundo ponto de vista é que actualmente tens mais condiçoes para dar as bandas, tens mais spots para concertos, mais bandas a mexerem-se e com vontade de tocar mas quando chega à hora da verdade ninguém aparece.
Por exemplo, na Associação de Musicos podes ter na boa um concerto todos os fins-de-semana com bandas conhecidas no 'underground nacional' e os bilhetes bem poderiam ser de 2 'cores' por show... Ao fim de um mês gastavas 8 'cores' para ver 16 bandas em 4 dias diferentes... o que não é NADA (tendo em conta o pessoal que vai a todos os festivais de Verão). A merda é que ninguém apoia estas iniciativas e o que acontece é que tenho de fazer concertos a 5 'cores' para poder pagar tudo a todos... se quisesses ver todos os shows seriam 20(!!!) 'cores' no final do mês. O mal é mesmo esse... é ninguém perceber que a cena só cresce quando todos se unirem e fizerem por isso. Eu estou disposto a ajudar toda a gente na organização de um show, na cedencia de equipamento, no que quiserem, se falarem comigo... Mas nem isso... o pessoal não é capaz de assumir uma responsabilidade de trazer uma banda cá abaixo...
Em relação a eu não me 'dedicar' tanto como à uns tempos... Não concordo com isso, eu penso que até estou mais activo do que estava à uns tempos... Só que noutra perspectiva. Antes não tinha este ANYMAIS nem tinha a I CAN C U (organizava um show por mês e quando desse). Simplesmente antes pegava em mim e colava cartazes pelo Algarve todo. Só que infelizmente a gasolina está mais cara, a aderencia que se faz nos concertos nem dá para pagar a gasolina que gasto (e por vezes nem os cartazes!), antes contava com 4 pessoas para me ajudar e actualmente vou só com 1 (e quando vou), etc. Não desmotivei (pelo contrário...), nem é uma questão de maturidade... Porque, ok, é verdade que tenho mais maturidade, mas isso não é razão para deixar de fazer pela cena, muito pelo contrário... Por falar nisso, eu costumo dizer que a musica é como uma namorada... O primeiro orgasmo não é igual ao 15º. Do tipo, tu quando conheces uma gaja e tás com aquela fé toda, dedicas-te ao máximo, dás-lhe carinho e atenção quanto podes e é tudo um mar-de-rosas; após 1 mes começa a 1ª discussão, após 2 meses acabam e voltam passado uma semana, após 3 meses já tu sais com os amigos e ela com as amigas, passado 4 meses quase que não se vêm. Isto nem sempre é assim mas é apenas um exemplo...
O Hardcore, assim como um trabalho, assim como um hobbie, é mesmo assim... Tu não fazes hoje os 20 dives que fazias por concerto à 3 anos, nem sais de nariz partido como o mês passado, nem a cheirar a cavalo de suor como ontem... Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
Em relação às discos... não tenho nada contra nem posso... Cada um sabe de si e ninguém deve criticar ninguém. Ninguém me pode criticar pela roupa rasgada, nem pelos patches de intervenção, nem pelo facto de ter o mesmo estilo que tinha à 5 anos atrás. Assim como eu não posso criticar quem se veste à 'beto', sapatinho a brilhar, gel no cabelo e 'butes comer umas garinas'. Não meu, são cenas totalmente diferentes. O que eu critico são aqueles que na sexta-feira vão a um concerto de hardcore vestidos à 'core' e no Sábado vão para a Kadoc vestidos à 'beto'. Eu posso não ser o melhor exemplo do mundo mas a verdade é que eu tenho o mesmo estilo e forma de vestir de sempre, quer as pessoas gostem ou não. Continuo com a roupa rasgada, a sair de bike todas as noites, deixando o carro à porta de casa, a ouvir a mesma merda de sempre, com o mesmo pessoal, e a frequentar uma sala de ensaios todas as noites. É a minha vida, aquilo em que acredito, por mais que quizesse não conseguiria mudar.
Agora falando mais da 'disco' em si... o que eu não gosto na disco é apenas o facto de não ser um bom sitio para se estar...pelo menos na minha opinião. Não se aprende nada, é só engates, pastilhanços, droga a passar de mão em mão, musica que fode os neuronios a um gajo...enfim... é apenas a minha opinião, eu não aguentava... Para quem aguenta e se sente bem... Não tenho nada contra e respeito... Só exijo que me respeitem a mim também.
5 – Achas que a cena HardCore está a tomar uma má direcção?, tipo as pessoas pensam que HardCore é musica, e esquecem-se de tudo o resto à volta.
A cena hardcore em si não está a tomar uma má direcção... as pessoas que a constituem é que talvez sim. Sei que parece que vai dar ao mesmo mas não...
Tu ainda tens bandas como NEW WINDS, LAST HOPE e SIMBIOSE (cada uma na sua vertente) que duram à anos, sempre com os mesmos ideais e a acreditar no que fazem. Muitas delas quase que não têm 1 elemento da formação original e ainda tocam porque acreditam no que fazem. Nesse sentido penso que o hardcore tem a mesma direcção, a mesma força de sempre. Cada vez há mais bandas e o movimento tende a crescer... é pena que da parte do publico isso não aconteça.
Ainda há quem pense que o hardcore nacional é MATA-RATOS e TARA PERDIDA e que o internacional é HATEBREED e TERROR quando passa para lá disso tudo. Ou nunca ouviste dizer que LINKIN PARK é uma mistura de hardcore com hip-hop? Eu acho absurdo mas ainda há quem pense assim...
A meu ver as bandas têm a mesma força de sempre e acreditam nas mesmas merdas de 1995 (tirando um conceito ou outro que possa ter sido alterado) sói que o publico que vai aos concertos não está preparado para as mesmas filosofias e 'secas' de à 10 anos atrás... Temos os 'putos novos' a querer foder-se no pit, a querer ouvir a banda mais pesada com a sua t-shirt de SICK OF IT ALL (de onde só conhecem do LIFE ON THE ROPES para a frente) e a tentar não compreender o movimento. Depois temos os mais 'velhos' na cena que gostavam de poder estar em cima do palco a partilhar o microfone com a banda mas que infelizmente não passam do 'encosto na parede lá do fundo' pelo facto de esses mesmos putos não perceberem o que é o 'hardcore em si'. Faz sentido cantar a 'NEW DIRECTION' de Gorilla Biscuits nestas condiçoes?
Onde é que hoje em dia se vê pessoal a falar entre as musicas? Tipo... falar ainda falam mas será com a mesma convicção de à uns anos atrás? Tenho as minhas duvidas...
Ah...e depois há aqueles que se dizem 'do hardcore' e só conhecem as bandas que vêm a Portugal ou as que estão 'na moda'. Agora anda tudo a ouvir CHAMPION (e eu não tenho problemas de dizer que sou um exemplo disso) e COMEBACK KID, dizem que sao as melhores bandas de hardcore, porque vieram dar um grande show ao nosso país, mas no entanto nomes como VITAMIN X, MAINSTRIKE, REACHING FORWARD, CORNERSTONE (e muitas outras) passam-lhes ao lado.
Há ainda muito por pesquisar, muito para aprender, falta sensibilizar as pessoas... mas ninguém o faz... aliás... ninguém quer fazer, nem sensibilizar nem ser sensibilizado...
É esta a 'má direcção' de que tanto falas...
6 - Hm, agora mudando, com a I CAN C U, pretendes apenas musica ou tens mais cenas pensadas?
A I CAN C U não é só musica, aliás... nem tem a ver com a musica em si.
Eu curto tantas bandas que nem meto a tocar ao vivo por não 'apoiar' a sua mensagem... Mas também admito que já organizei shows com bandas de mensagens às quais não apoio... Bem sei disso...
A I CAN C U, assim como o ANYMAIS, é uma forma de eu me exprimir da melhor forma que posso e consigo fazer. Não directamente mas indirectamente... Isto é.. Eu não preciso de ir para cima de um palco falar quando posso meter bandas com maneiras de pensar e encarar a vida 'parecidas' com a minha, como por exemplo POINTING FINGER ou DAY OF THE DEAD, a falar 'por mim'. A I CAN C U passa para lá disso...
Era bom que tivessemos zines mensais e flyers para distribuir em concertos, era bom que houvesse ainda mais gente envolvida, que quisesse participar no blog, que quisesse ajudar a colar cartazes, divulgar os eventos, que quisesse trabalhar mais connosco...era bastante agradável essas situações acontecerem. Gostava de poder um dia saber que a I CAN C U organiza shows em Lisboa e eu não estar lá envolvido... Não sei se me percebes.
O hardcore não nasceu em Portugal, no entanto o movimento continua cá e onde 'nasceu' nem se imagina como vai a cena por estes lados. O mesmo acontece com o straight edge, veganismo, skin-heads, reggae, trash metal, EZLN, tudo... Tudo nasce num lado mas continua no outro. Tudo acontece por alguma razão.
Acho que a I CAN C U pode ir mais longe se todos quiserem contribuir. Melhor exemplo é o PUNK PT. Ainda me lembro quando o #punk no mirc eram só 2 ou 3 gatos pingados. Quando o site começou ninguém dava muito por ele e actualmente é um marco bastante importante para a 'cena hardcore' e não só. Hoje em dia é bem respeitado e é feito por todos os que participam no fórum, que deixam comentários, que deixam flyers, que respondem aos posts lá colocados... é esta a comunidade que deve existir... desde que não haja aqueles 'anónimos' que gostam de ir gastar o seu tráfego da ADSL que a mamã e o papá pagam a ir difamar os outros.
É bonito falar mal dos SHARPS e dos SKINS quando não se tem colhões para se aparecer num show sozinho e dizer-lhes isso na cara. É bom ter uma imagem no MSN com uma mão a esmagar uma suástica mas no entanto não se vai a um show de ideologia nazi com um casaco cheio de patches a dizer 'MORTE AOS NAZIS'. Aqui todos são livres de se exprimir desde que não interfiram com a liberdade dos outros e que não armem confusão. Na I CAN C U são respeitadas todas as ideologias, podem é não ser aceites, mas serão sempre compreendidas.
Tenho amigos de raça africana, mas tambem tenho amigos skins, tenho amigos da JSD e no entanto faço parte da JCP, tenho amigos straights e tenho amigos 'bebedos', amigos satanicos e amigos que vão à missa aos domingos a tarde, tenho amigos na Fuzeta e amigos em Faro, etc...
Era bom se se conseguisse conciliar tudo num unico espaço com o pessoal a aderir a todas as bandas... mas com a mentalidade portuguesa é bastante dificil. Eu dou-me bem com toda a gente, tenho mente-aberta, é pena que nem todos sejam assim. Eu posso não aceitar uma ideologia que me tentem impingir mas não deixo de respeitar e compreender esse ponto de vista... vivemos numa sociedade livre de expressão (quero eu acreditar que sim), não???
7- Sim, respeito acima de tudo. Já que tocas nisso, imaginemos um cenário de tourada, achas que as pessoas que as vivem e etc, merecem respeito? por um lado não estão a fazer mal nenhum porque a cena nas cabeças deles dizem que aquilo é "giro"; por outro lado estão a desrespeitar uma vida (que para eles é como se não existisse). Qual é a tua opinião/atitude em relação a isso quando só a sensibilização é quase ineficaz?
Sim, tens razão, no caso da tourada a sensibilização é quase ineficaz. Pouco mais há a fazer.. É daquelas coisas que por muito que faças e espalhes a mensagem , pouco poderá mudar.
Mas não vamos desistir só por isso... Cada vez há menos apoiantes desta tortura e tradição, cada vez há menos gente a pactuar com isto e eu até tinha fé que um dia fosse um 'negócio' em vias de extinção mas isso parece não acontecer...
Quanto a mim, em releção à tourada há apenas 3 coisas a dizer:
a) a tourada não consiste apenas na tortura praticada ao animal durante o 'espectáculo'; é uma tortura que começa muito antes quando o touro é 'alimentado' para esse espectáculo de sangue que só é iniciado perante o publico muito tempo depois;
b) não é uma 'luta' de vegetarianos e veganistas; eu como carne e não posso suportar o sofrimento de um animal desta forma; sei que a carne que eu como também provém do sofrimento de outro animal mas utilizar um ser que se mexe e respira como nós para 'animar a malta' é algo que eu não consigo suportar;
c) pactuar com a tourada é o mesmo que uma pessoa afirmar-se como contra a guerra e ficar indiferente com a tortura praticada 'ao vivo' perante os canais de televisão onde são queimados soldados, chicoteados, feridos, para sensibilizar o mundo (NEGATIVAMENTE!) que não deveriam ter entrado nesse jogo capitalista para atingir fins que não lhes pertencem;
Mas, fugindo um pouco à questão da tourada, isso até é bom... porque quando uma pessoa vai para uma guerra para 'defender a pátria' sabe que não pode voltar mas ao mesmo tempo via participar num nível de um jogo onde o dinheiro comanda as operações... e o sofrimento que é praticado ao vivo perante a TV é uma boa forma de mostrar ao mundo que tudo o que tem inicio também tem fim... tu podes tirar a vida a 150 pessoas mas alguém há-de tirar a tua... são poucos os que saem impunes... Regressando à questão da tourada a única solução será mesmo a de se fazer manifestações à porta das arenas mas o mal é que somos tão poucos (seremos?) contra esta tradição que por vezes nem dá para 'tocar' em ninguém... Falta agir mais e falar menos... só que em Portugal somos do tipo 'come e cala', criticam o aumento dos impostos, a subida da gasolina, as propinas, etc, mas quando é para se fazer 1 manifestação tens 50 pessoas na rua a lutar por direitos de 10 milhões... não chega... resultava mais quando fossem 10 milhões a lutar por direitos de 50... é assim que as coisas deveriam funcionar... Não podemos agir apenas quando algo que nos atinge não está certo... temos de pensar universal e globalmente e deixar de ser egocêntricos quando o mal não nos atinge. Ver guerra pela televisão pode ser actual mas não por muito tempo; não basta ter 'pena' das bombas que rebentam em Londres e 'saber' que jamais acontecerá em Portugal; não vamos agir apenas quando essa realidade nos atingir; o que acontece aos outros também nos deveria 'atingir', deveríamos ser mais 'activos' neste sentido e tentar mudar as coisas que acontecem aos outros antes de acontecer a nós... mas ir para a guerra não é solução, a solução é mesmo ACABAR COM ELA!!!
Desculpa se fugi um pouco à questão...
8 - De volta à I CAN C U, tens ideias de “expansão” da cena?
A melhor maneia de 'nos' expandirmos é nunca ficar parados e nunca trair os nossos ideais... Organizar shows, participar no maximo numero de eventos, estar ligado a sites como o GRITA, PUNK PT e DIRTY HOUSE, que fazem bastante pela cena...
Quero promover o máximo numero de bandas mas infelizmente o ano só tem 365 dias e todos os dias surgem bandas novas que curtia meter a tocar em cima de um palco... Mas a I CAN C U vai andando fixe...
Como já referi...em 3 meses organizamos 3 concertos e alguns com bandas 'bastante conhecidas' como Punk-Kecas, Mindlock, Ho-Chi Minh, For The Glory, Twenty Inch Burial, RJA, etc etc etc... Para além disso editamos o split cd (formato cd-r, nada de mais) de (the) Highest Cost com Payasos Dopados e agora vamos editar numa parceria com a DOPAMINA RECORDS de Espanha uma compilação com 10 bandas nacionais... 5 do Algarve e 5 de fora... Vai ser interessante poder 'ligar' mais o sul do país ao resto de Portugal...
Temos organizado um festival de dois dias, o 2 SIDES FEST e a proxima edição vai contar com 3 dias e com algumas bandas de 'nome' em Portugal...
Enfim...fazemos o melhor que podemos e orgulhamo-nos disso... A evolução depende de todos os que quiserem participar e eu sei que a bem ou a mal ainda há uns quantos a ter orgulho em entrar na cena. Tenho apoio do Ludgero que costuma fazer o jantar para as bandas (e cozinha pa caralho), o apoio do David (Get Lost e Pointing Finger) que por vezes desenrasca-me na bilheteira, pessoal como a Andreia, o Vice, o Cláudio e o Armindo, que me ajudam a colar cartazes (entre muitos outros), o Samuel que por vezes empresta material de som sem pedir nada em troca, enfim...
Como vês, a I CAN C U posso ser eu sozinho a erguer mas conto com o apoio de muita gente (muitos deles nem aperecem na lista acima) que me ajudam nesta 'luta' que tanto prazer me dá... Sei que um dia deixarei de ter oportunidade de fazer pela cena porque todos envelhecemos, amadurecemos, perdemos a vontade, mas ainda tenho 23 anos e sei que ainda tenho uns bons largos anos pela frente para fazer aquilo que gosto... APOIAR A CENA HARDCORE NACIONAL DA MELHOR FORMA QUE POSSO...
9- Achas que perder a vontade é amadurecer ou é começar a morrer? Que sentimento te preenche quando pensas em perder o “espírito jovem”?
Ora bem... Quando falo em perder a vontade é num ponto de vista metafórico... Perder a vontade nunca se perde (pelo menos eu), surgem é outras prioridades que nos ocupam o tempo.
Eu estive 2 anos sem estudar e trabalhar (à 3 anos atràs), era normal que nessa altura tivesse 4 bandas a que me dedicasse a 100%, organizava shows com mais frequência e colava cartazes pelo Algarve todo se fosse necessário.
Entretanto começo a estudar a noite, arranjo trabalho (8 h por dia), 'fundo' a I CAN C U, ligo-me à Associação de Músicos e ao Satori, enfim... A vida de uma pessoa muda. Entrar no trabalho às 8h, sair as 17h, ter 3 horas para fazer as minhas cenas, jantar às 20h, às 21h30 ter ensaios e colar cartazes das 23h30 às 01h para no dia seguinte entrar novamente às 8h...é muito puxado, meu. Mas é como dizem, 'cavalo que corre por gosto não cansa'.
Ok, pode não cansar mas pode correr mais devagar para aguentar a pedalada...
Agora imagina um gajo que se junte com uma xavala, tenha um filho, esteja a pagar casa, etc. Achas que tem a mesma força que eu? Primeiro a família, depois o trabalho, depois a sua 'força de vontade'. Um gajo ter de alimentar uma criança e estar a pagar casa não tem a mesma força nem vontade de 'dispender' guita como eu... há outras prioridades na sua vida. Eu cá me aguento porque ainda sou 'solteiro e bom rapaz' mas um dia isto tudo vai mudar e é por isso que quero aproveitar ao máximo.
Não considero perder a vontade como amadurecer nem começar a morrer... isso depende do ponto de vista.
Amadurecer só se for num sentido que na tua vida começas a ter mais responsabilidades e tudo muda à tua volta; começar a morrer só se tu perderes a vontade a 100% de fazer algo pela cena. Quantas vezes já eu não disse que 'estava farto' desta vida e que queria deixar tudo para trás? Mas achas que consigo? Não sei fazer mais nada meu... Não tenho mais nenhuma paixão. A mim custa-me ter 23 anos e não ter 'tempo' para procurar uma gaja, não saio a noite, não ando por aí feito maluco... Mas a verdade é que já começo a sentir falta disso e não tenho problemas de o admitir, só que...enfim... a musica continha a ser a prioridade e é nisso que eu acredito.
Já agora quero aproveitar a oportunidade para deixar um agradecimento bastante especial aos POINTING FINGER por me terem 'ajudado' a ser o que sou hoje... Foram eles que me meteram no caminho da música, me mostraram o que era o straight edge (de certa forma sempre o fui mas não conhecia o seu significado...), me deram motivos para acreditar que há coisas fortes na vida às quais nos podemos agarrar e que nos podem completar interiormente. É graças a ver o David a organizar shows, o Rookie a falar de hardcore, as letras do 'Tubbus', o slamming e stage diving nos concertos, que um gajo aprender o seu significado...
Meu, o hardcore é das cenas mais belas a que estive ligado, pode ter os seus podres como tudo neste mundo mas é um feeling inexplicável. É um feeling de entreajuda que não vejo em mais lado nenhum. Sem querer rebaixar as outras vertentes musicais... mas... tu vês festivais de Metal D.I.Y.? Vês festivais de Rock D.I.Y.? Eu vejo muito raramente, as pessoas parece que não têm força para se erguer... Esperam por um contrato discográfico, manager, tours, vendas, etc...
No HC não, é rara a banda que tem um cachet fixo (só aqueles já com algum nome e alguns anos nesta merda), não vês bandas com managers e as tours são organizadas por elas mesmas, o que faz a cena ter bastante significado. Mexem-se, suam e a vida tem mais valor assim... Trocam-se demos e cd's pelo mundo, vai-se tocar lá fora e traz-se bandas cá...
Meu, sinceramente, só vejo isso no HARDCORE...
10 - Sim, há coisas boas na vida, que fazem falta, mas não tens de seguir um padrão definido pela sociedade! O tempo é teu, dedica-o ao que quiseres como quiseres! Acima de tudo a satisfação pessoal, e as coisas sem dificuldades nunca tem a mesma piada! Ahaha! O hardcore é algo positivo, que nos ajuda a sentir bem, especialmente quando se concilia com um bom grupo de amigos, é altruísmo também, é assim que eu o vejo! Andar nessas andanças sozinho por vezes custa..Outra cena, eu oiço vários tipos de música (música, por MAIS algo que seja, não deixa de ser música), muito pessoal não vai aos concertos simplesmente porque a musica não lhes agrada, mesmo que se interessem a sério por muitos dos temas. Não achas que a cena é um pouco fechada musicalmente? Podiam falar das mesmas coisas, mas de outras formas (outros estilos musicais), só ia ajudar à consciencialização das pessoas “de fora à cena”. Não achas que deviam haver mais preocupações com a forma como se passa a mensagem? Ou é a necessidade que as pessoas têm de se afirmar como sendo isto ou aquilo? (“ai eu sou do hardcore, tudo o que me apetecer falar tem de ser desta forma”).Porque eu acho que o importante é a mensagem que se quer fazer passar, não temos de andar com isto e aquilo quando queremos que as pessoas saibam algo, a ideia é manter o espírito e fazer passar da forma mais receptível!Que dizes sobre isto?
Concordo com tudo o que disseste. Sei que sou bastante repetitivo nas minhas respostas e ideias mas volto à historia das zines... É necessario a informação sair da net (não é vida pra ninguem) e chegar ao papel... Tu com um papel na mão és praticamente obrigado a ler, na net só procuras o que queres. Na net só se fazem downloads de MP3's, so se procura roupa, só se vê as agendas de concertos... ninguém procura ler as letras nem a mensagem das bandas... é estranho.
Tu hoje em dia criticas por criticar, porque tens necessidade de o fazer, porque todos o fazem e se não o fizeres não fazes parte da 'cena', porque é inteligente criticar. O pior é quando criticas e não sabes o que dizes.
Fui bastante 'atacado' por amigos porque escrevi uma letra para (the) HIGHEST COST a dizer 'The vote we give, the more you live' e às tantas aderi à JUVENTUDE COMUNISTA PORTUGUESA. Enfim... Terei eu 'apunhalado' os meus ideais? Eu não vejo assim. Simplesmente sinto algo que em inglês é qualquer coisa do tipo 'bite the bullet'. Por vezes temos de fazer certas cenas para atingir os nossos objectivos. A anarquia poderia resultar mas... enquanto não há, não há que ficar parado. Se estou contra algo tenho de me aliar ao oposto, na minha sincera e humilde opinião... Se estou contra uma ideologia é sinal que estou noutro barco e tenho de remar para chegar primeiro ao porto. O facto de ter aderido à JCP não significa ser comunista ou querer ser deputado do PCP como muitos dizem, significa apenas uma forma de estar contra aquilo que não acredito ou que acredito não resultar. Percebes onde quero chegar?
Estou consciente do que escrevi tanto quanto estou consciente do que fiz... Tenho 23 anos, sei da minha vida e sei bem o que quero. Para quem ainda não me compreende comprem o dvd BATTLE OF MEXICO CITY de Rage Against The Machine e em vez de irem logo para o menu PLAY CONCERT passem pelos extras (se estão lá é porque também interessam) e experimentem ouvir o documentário e palavras proferidas pelo SubComandante Marcos do EZLN no México e o que ele diz sobre a forma como as pessoas encaram, comem e calam, o que o estado lhes 'oferece'.
Em relação à musica... Sim, penso que a mensagem deveria passar por outros tipos de musica só que infelizmente quem está fora do hardcore geralmente nem quer saber o que se passa 'por cá'.
Isto é, o pessoal do hip-hop também critica o estado, a politica, os ministros, de certa forma a mensagem è a mesma do punk mas noutra perspectiva, mas no entanto criticam e fodem os concertos de hardcore. O mesmo acontece com os 'de cá' que criticam o hip-hop. Todos juntos seriamos uma força muito maior.
Isto é uma prova de que as letras não interessam, só o estilo. Só o andar vestido de preto, os cincos com bicos ou o boné pó lado e calças arregaçadas... é uma BELA MERDA esta divisão toda...
Pior ainda é quando há guerras entre pessoal 'da mesma cena'.
As guerras começam na tua própria cidade; vês amigos a lutar entre si quando deveriam unir-se e lutar contra os de fora. Vês a MARGEM NORTE contra a MARGEM SUL quando poderiam estar unidos e lutar com os de fora novamente... Se fossemos lutando contra os que estão mais longe poderiamos unir-nos ainda mais... até ao ponto de acabarmos por nos unir com esses mesmos de fora e às tantas a cena ser tão sincera como era dantes... Não é havendo lutas entre estilos de musica que se vai a algum lado, podes ter a certeza. Fora de brincadeiras, até curtia ver uma banda PIMBA com uma mensagem política... quem sabe se não será um dos meus proximos projectos?? Quem sabe?!??! Acredita que iria atingir um publico bastante mais diverso do que os 20 amigos que me seguem em todos os shows que dou...
Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!!!!!!!! Já estáaaaaaaaa!!!!!!!!!!!! Tóbrigado sô Rafael! Sô publico, espero que consigam aprender alguma coisa e tirar boas informações acerca da [I CAN C U] daqui! Ora então boa tarde e até a próxima!GRITA! (www.GRITA.pt.vu)
Obrigado a ti... GRITA enquanto podes!
... UM dia UM sonho tornou-se UMA realidade ...
Pois é pessoal... desta vez foi a minha vez de ser entrevistado. Não percebo porquê, há gente que tem muito mais para dizer mas nunca se recusa algo que se é pedido com algum sentido... O projecto GRITA anteriormente entrevistado por nós foi agora quem decidiu rematar à baliza e resta-nos saber se marcaram golo ou não... Para isso aqui fica a entrevista... digam-me vocês se o guarda-redes estava atento ou se eles marcaram mesmo ponto. Obrigado mais uma vez ao PROJECTO GRITA por todo o empenho demonstrado...
AQUI VAI:
E esta semana temos uma conversa escaldante!
Não, não é com o Figo, nem com o Mário Soares, mas também ainda não sabemos como será a próxima semana dos Morangos com Açúcar!
Então o sorteado foi a I CAN C U(nderground), não precisa de dizer “Roda dos Milhões” ao atender o telefone, porque isto saiu na raspadinha!Então apanhámos o Rafael, de 23 anos e é solteiroooooo (é? Sei lá!), agarrem-se!!! wooow!
Vou-vos contar a história!
Era uma vez um monstro do repolho, que decidiu dar um passeio internético e encontrou um artigo na ZonaPunk (PunkPt.com) e decidiu ir ver!
E PUUUUUFFFF… descobriu o caminho encantado até à I CAN C U!!
E wOOOow!
Encontrou umas entrevistas bem elaboradas, penso que dá pra sacar boa informação acerca do indivíduo/entidade entrevistado!
Então, mas se I CAN C U (“to-t’a ver!”), porque não os vemos nós a eles?
E começou assim:
Ora então boa tarde Rafael, você acredita em Deus? Quer ficar com uma revistazinha pa ler?
1- Quem são/é o [I CAN C U]/anymais? E quais são os vossos objectivos? TUMBAS!
Boas Pedro… Então aqui vai...Essa pergunta tem muito que se lhe diga. Se formos a ver bem a I CAN C U não é nada, é abstracta e o mesmo se passa com os ANYMAIS. São duas coisas que têm bastante peso e significado na minha vida mas que por outro lado são apenas utopias mentais da minha inconsciência.
A I CAN C U provém de uma associação que nunca cheguei a pôr em prática que era a OMBAF (Organização Musical de Bandas e Associados de Faro). A OMBAF era apenas uma mini-associação que pretendia contar com bandas como LARVAE, KONTRATTACK, FULL OF NOISE (agora CONFRONT HATE) e OX Y GENIUS para se orientar uns concertos pelo Algarve e não só. Seria uma filial da Associação Recreativa e Cultural de Músicos de Faro mas noutra perspectiva. Tinha como principal objectivo a promoção e divulgação das bandas algarvias um pouco por todo o país com concertos por toda a parte. Infelizmente a ideia não avançou e ficamos por aqui. Cheguei a contar com 50 'sócios' que preencheram a inscrição mas nunca chegaram a dar os 10 'cores' necessários para se alcançar com a cena e então 'morreu' por aí, ou melhor... Ficou apenas na minha cabeça.
Os anos passaram, saltei de LARVAE para BLACK SUNRISE, depois para IN X FERIS, AN X TASY e agora para HIGHEST COST e decidi 'recomeçar' algo que nunca tinha sequer chegado a começar. Organizei um concerto na Associação de Músicos de Faro onde o cartaz tinha uma fotografia do Subcomandante Marcos do EZLN com a sua 'máscara' habitual de olhos destapados. E decidi dar um nome ao concerto 'I CAN C U'. Às tantas o concerto foi cancelado, as bandas mudaram, a data também mudou e decidi usar esse nome para o show seguinte. Como curti a ideia e como o pessoal gozava com a cena a ler 'I CAN cú' em vez de 'I CAN C U' comecei por usar essa denominação para os shows que organizo...e já foram uns quantos. Vamos a caminho do 20º show...o que já é bom tendo em conta que 'começamos' a organizar cenas desde 29 de Abril.
A I CAN C U sou eu sozinho mas não sou só eu que faço parte dela. São bandas como RENT A LIFE, PELINTRAS, UNFAIR, DIVE (queria dizer o nome de todas mas nunca mais saía daqui) e outras tantas que participam nos nossos shows... É o pessoal que cola cartazes, é quem empresta o material, quem orienta estadia para as bandas, quem toca por prazer e não por dinheiro, quem vê a musica como um escape para as suas frustrações diárias ou para a usar como uma arma, para quem gosta de apoiar a cena quer as bandas sejam boas ou não... Enfim... TU és a I CAN C U a partir do momento em que tens um http://www.GRITA.pt.vu , percebes onde quero chegar?
Em relação ao ANYMAIS... Eu tinha uma banda chamada BARBIE IS A LESBIAN MAN e as letras eram em inglês. Devido a várias mudanças na formação decidi então mudar totalmente o rumo que estávamos a levar e passamos a cantar em português com o nome ANYMAIS y RACIONAIS. Curti o nome pelo trocadilho e decidi deixar assim. Às tantas criei o blog ombaf.blogspot.com (acho eu, ehehhe) e intitulado I CAN C U. Para que o site tivesse todas as minhas 'ideias' em 'prática' decidi criar o url anymais.pt.vu.
O blog era suposto ser uma espécie de zine online onde eu pudesse escrever sobre o que bem entendesse, cenas que eu sentisse que fossem necessárias de dizer... Na verdade ainda só fiz umas quantas entrevistas e pouco mais porque os meus outros projectos do dia-a-dia não me permitem fazer mais... As bandas, a Associação de Músicos, a I CAN C U, o trabalho, a escola, enfim... faz tudo parte da minha vida e são prioridades que tenho de encarar e conciliar de forma a não deixar nenhuma para trás... Acho que é tudo...!!
2- Hum... quando falas na OMBAF, porque achas que o pessoal não aderiu para que a cena fosse mesmo pra frente?
O pessoal não aderiu pela mesma razão pela qual nem eu aderia nem tu o farias... A razão é simples, a falta de confiança demonstrada por parte de quem quer tomar uma iniciativa.
Isto é simples... Se te chegar um gajo que não conheces de lado nenhum a dizer que vai abrir uma empresa e que se tu adiantares 500€ ficas efectivo na mesma a ganhar 1500€ por mês...tu darias esse passo? Obviamente que não... Mas acredito que se um amigo teu te pedisse 500€ para abrir um negócio (imaginando que tinhas possibilidade de lhe emprestar essa quantia) e se ele te garantisse que te daria 10% do negócio todos os meses... Talvez acreditasses por se tratar dum amigo. Ou talvez não, não sei...
Enfim... Eu propus a cena a toda a gente e todos acreditaram que era um projecto com pés e cabeça só que quando se falava em entrar com os 10 'cores' de avanço o pessoal ficava renitente no sentido de 'será que vale a pena dar esse guito? O que fará ele com isso?'... Na verdade bastava 100 pessoas a dar 10 'cores' para se ter 1000!!! Com esses 1000 podia-se investir num som +/- para a Associação de Músicos (na sala pequena, claro) e mostrar ao pessoal que até se ia a algum lado... Depois vinham os amigos, os amigos dos amigos, os amigos dos amigos dos amigos...todos a querer entrar na OMBAF... Às tantas já tínhamos tudo para se começar a retribuir ao pessoal o 'avanço' que estes tinham dado.
Faltou sim confiança por parte dos 'interessados', que chegaram a um ponto em que deixaram de acreditar no projecto. Mas isto é básico de se ver as cenas... o projecto OMBAF 'morreu' mas a I CAN C U continua e já caminha para o 20º concerto em cerca de 3/4 meses... Isto significa que a OMBAF poderia estar a ir por aí também... a diferença é que com shows de 80/100 pessoas a pagar 3€ e onde grande parte do guito é para garantir boas condições às bandas de fora (alojamento, jantar, bebidas, cachet...) é difícil se 'fazer algum' para se apostar nesse projecto e tentar ir mais além... Enquanto que se todos tivessem entrado com os 10 'cores' era muito mais fácil e já tudo andava sobre rodas... Foi basicamente isso... pouco mais há a dizer... Vou continuando a fazer as coisas sozinho (mas faço!) a bem ou a mal... As vezes resultam, outras não, mas é tudo fruto do meu suor e isso, pelo menos para mim, significa bastante. Se houver mais gente interessada em ajudar só tenho mais é que agradecer. Até lá...
3 - Quando falas que acreditarias mais num amigo pra meter essa cena a correr, é algum tipo de critica ao núcleo de amigos em volta da cena musical que existe por ai?Mas a cena funcionou, de outra forma, cresce devagar!Simplesmente não tinham uma “estratégia de marketing” bem definida à partida, penso eu!Pelos vistos, tens marcado a diferença na cena musical ai da santa terra! Que tens a dizer sobre o que se passa à volta disso? Desde as bandas, ao pessoal que vai aos concertos, atitude fora dos concertos, será que o pessoal fica consciente e aprende alguma coisa em assistir a esses eventos?Que principais diferenças apontas entre antes e agora?
Pergunta interessante esta... Vou tentar ser o mais breve mas explícito possível...
Quando falei em acreditar num amigo não tinha nada a ver com critica nenhuma. Até nem era essa a intenção, pelo contrário. Eu mais depressa acreditava num projecto apresentado por uma banda de Faro do que por ti, por exemplo, não sei se me compreendes. Em Faro estou com eles a toda a hora e sei até onde posso contar com eles, até onde é 1 projecto com pernas para andar e até onde pode ser um fracasso... Eles também sabem o mesmo em relação a mim. À quanto tempo eles não me ouvem dizer que hei-de trazer THE WHITE STRIPES à Associação? Acredito intensamente nesta ideia mas eles não... tem tudo a ver com até onde conheces os limites daqueles que te rodeiam. Mas isso adquire-se com o tempo. Agora já vejo com melhores olhos o projecto GRITA e no entanto há quem o vá conhecer através de mim e ainda causa alguma susceptibilidade... É tudo uma questão de tempo e confiança. Tu podes confiar num amigo a 100% mas essa confiança pode acabar a partir do momento em que desaparece algo na tua casa na 1ª noite em que o convidaste para ir lá dormir... Há quem seja assim, há quem não o seja... é apenas 1 exemplo...
Em relação ao pessoal cá de baixo... Nota-se uma grande diferença de cidade para cidade mas quando toca ao Algarve e fora dele as semelhanças são mínimas. Não é falar mal do pessoal de cá mas penso que falta uma certa 'escola' ou 'cultura musical', como hei-de explicar?... Quando vem uma banda de hardcore de Lisboa e trazem algum pessoal com muito pogo e slamming a mistura... o pessoal de cá não encara bem isso e acaba sempre tudo mal. O slamming cá não existe e só vai aparecendo com a vinda de bandas como FOR THE GLORY, DEVIL IN ME, etc.. Aqui reina muito a onda do 'eu bebo, eu consumo drogas, eu fodo o pit'... e isso não é o tipo de hardcore que eu cresci a apoiar... Mas no entanto varia de cidade para cidade. O pessoal de Olhão e da Fuzeta são bastante unidos e quando PUNK C MANTEGA ou PELINTRAS toca vão todos atrás apoiar a banda da sua cidade; não há confrontos, nem desatinos, é tudo amigo, bebem os seus copos, cantam os refrões, vão para o mosh e corre tudo bem. O mesmo se passava com KONTRATTACK e NO TIME TO WASTE, entre outros. Só que infelizmente o país tem um mercado bastante fraco e isso faz com que as bandas tenham de tocar várias vezes nos mesmos sitios se quiserem tocar ao vivo. Uma banda de Faro chega a tocar 9 em cada 10 vezes em Faro, num ano!!! É um absurdo. Se vais ao historial de uma banda do Algarve é rara a vez em que saíram de cá... Mas isso é porque ninguém se mexe, ficam sentados à espera que o telefone toca... só que esquecem-se que ninguém tem esse número para telefonar. Cá ainda só temos a 'sair da toca' os Pointing Finger e pouco mais, mas é porque se mexeram MUITO e BEM na cena...
Voltando ao que interessa... as bandas tocam sempre no mesmo sitio, sempre as mesmas musicas, o mesmo espectáculo (sem alterar nada), o mesmo publico... chega a um ponto que o pessoal começa a deixar de apoiar e a banda que metia 200 mete agora 20 (!!) pessoas... tudo farta... e a musica não é eterna!
Depois há as namoradas, os filhos, a universidade, o trabalho, a 'disco'...enfim... é tudo uma questão de hábito e de rotina... Eu já ando nisto há 7 anos e não me vejo fora da 'cena' mas por outro lado já não colo os cartazes que colava à uns anos, já não invisto o guito que investia à uns meses e já não faço os dives que fazia ontem à noite... A diferença é que eu tinha 14 anos e agora tenho 23...!!!
Muda mesmo muita coisa…
4 - Pois, relativamente ao comportamento do pessoal nos concertos…. Queria saber se costumam falar de temas relacionados tipo com responsabilidade social, politica, etc, que pudessem esclarecer, alertar ou mostrar ao público o mundo a nossa volta, tudo o que nos rodeia. Mostrar que o Hardcore é uma escola, não é um circo! Mostrar que os concertos não servem só para ir lá curtir a musica, servem para ganhar consciência das cenas que se passam a nossa volta e aprender com isso!Pela forma como falas, parece que já viveste a cena mais intensamente do que agora (“…já não colo os cartazes que colava à uns anos…”, entre outros). Consideras isso como um afastamento, desmotivação ou tem a ver com maturidade? Já que falas, qual é a tua opinião em relação às “discos”?
Ora bem... Em relação à mensagem nos concertos... está cada vez menos presente... Já não se vendem zines, não se distribuem flyers, não se fala entre as musicas... Há bandas que me dizem 'Só temos meia hora para tocar? Então tocamos as 12 músicas de estalo sem paragens'. É triste mas real, a musica não passa disso, de musica...! Mas eu também não me posso queixar porque não escrevo zines nem distribuo flyers... Tento sim falar entre as musicas mas a mensagem não passa do palco, infelizmente. Depois é como o Congas diz...de que adianta falares quando só te estão a ver os teus prórpios amigos, aqueles que já conhecem a tagarelada toda de trás pá frente?
Em relação à mensagem das bandas eu também não posso nem tenho o direito de criticar. Cada banda fala do que sente, cada estilo de musica tem uma mensagem inerente que o caracteriza. De qualquer forma não tens uma dinamica tão activa no movimento como era à uns anos atrás, onde qualquer banda enchia uma sala, fosse conhecida ou não. Os bilhetes eram mais baratos e as salas enchiam mais facilmente. Actualmente é bastante complicado descer dos 3 / 4 'cores' o preço de um bilhete porque é necessario pagar muita coisa e quase não há aderencia...falamos de concertos de 80/100 pessoas, como já disse. Se eu tivesse a certeza que num show iria meter 200 pessoas acredita que nao passava dos 2 'cores' o preço do bilhete. Mas infelizmente isso não acontece, ninguém apoia, ninguém se interessa, a não ser que sejam bandas de amigos...e mesmo assim é só quando não têm nada pra fazer.
Pra te dar dois exemplos; fiz um concerto com 8 das bandas mais conhecidas do Algarve de Metal e Hardcore num festival de dois dias por 1 bilhte unico de '5 cores'... contava com as 300 ou 400 pessoas e so foram 210 (!!!), é bastante complicado hoje em dia; o segundo ponto de vista é que actualmente tens mais condiçoes para dar as bandas, tens mais spots para concertos, mais bandas a mexerem-se e com vontade de tocar mas quando chega à hora da verdade ninguém aparece.
Por exemplo, na Associação de Musicos podes ter na boa um concerto todos os fins-de-semana com bandas conhecidas no 'underground nacional' e os bilhetes bem poderiam ser de 2 'cores' por show... Ao fim de um mês gastavas 8 'cores' para ver 16 bandas em 4 dias diferentes... o que não é NADA (tendo em conta o pessoal que vai a todos os festivais de Verão). A merda é que ninguém apoia estas iniciativas e o que acontece é que tenho de fazer concertos a 5 'cores' para poder pagar tudo a todos... se quisesses ver todos os shows seriam 20(!!!) 'cores' no final do mês. O mal é mesmo esse... é ninguém perceber que a cena só cresce quando todos se unirem e fizerem por isso. Eu estou disposto a ajudar toda a gente na organização de um show, na cedencia de equipamento, no que quiserem, se falarem comigo... Mas nem isso... o pessoal não é capaz de assumir uma responsabilidade de trazer uma banda cá abaixo...
Em relação a eu não me 'dedicar' tanto como à uns tempos... Não concordo com isso, eu penso que até estou mais activo do que estava à uns tempos... Só que noutra perspectiva. Antes não tinha este ANYMAIS nem tinha a I CAN C U (organizava um show por mês e quando desse). Simplesmente antes pegava em mim e colava cartazes pelo Algarve todo. Só que infelizmente a gasolina está mais cara, a aderencia que se faz nos concertos nem dá para pagar a gasolina que gasto (e por vezes nem os cartazes!), antes contava com 4 pessoas para me ajudar e actualmente vou só com 1 (e quando vou), etc. Não desmotivei (pelo contrário...), nem é uma questão de maturidade... Porque, ok, é verdade que tenho mais maturidade, mas isso não é razão para deixar de fazer pela cena, muito pelo contrário... Por falar nisso, eu costumo dizer que a musica é como uma namorada... O primeiro orgasmo não é igual ao 15º. Do tipo, tu quando conheces uma gaja e tás com aquela fé toda, dedicas-te ao máximo, dás-lhe carinho e atenção quanto podes e é tudo um mar-de-rosas; após 1 mes começa a 1ª discussão, após 2 meses acabam e voltam passado uma semana, após 3 meses já tu sais com os amigos e ela com as amigas, passado 4 meses quase que não se vêm. Isto nem sempre é assim mas é apenas um exemplo...
O Hardcore, assim como um trabalho, assim como um hobbie, é mesmo assim... Tu não fazes hoje os 20 dives que fazias por concerto à 3 anos, nem sais de nariz partido como o mês passado, nem a cheirar a cavalo de suor como ontem... Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
Em relação às discos... não tenho nada contra nem posso... Cada um sabe de si e ninguém deve criticar ninguém. Ninguém me pode criticar pela roupa rasgada, nem pelos patches de intervenção, nem pelo facto de ter o mesmo estilo que tinha à 5 anos atrás. Assim como eu não posso criticar quem se veste à 'beto', sapatinho a brilhar, gel no cabelo e 'butes comer umas garinas'. Não meu, são cenas totalmente diferentes. O que eu critico são aqueles que na sexta-feira vão a um concerto de hardcore vestidos à 'core' e no Sábado vão para a Kadoc vestidos à 'beto'. Eu posso não ser o melhor exemplo do mundo mas a verdade é que eu tenho o mesmo estilo e forma de vestir de sempre, quer as pessoas gostem ou não. Continuo com a roupa rasgada, a sair de bike todas as noites, deixando o carro à porta de casa, a ouvir a mesma merda de sempre, com o mesmo pessoal, e a frequentar uma sala de ensaios todas as noites. É a minha vida, aquilo em que acredito, por mais que quizesse não conseguiria mudar.
Agora falando mais da 'disco' em si... o que eu não gosto na disco é apenas o facto de não ser um bom sitio para se estar...pelo menos na minha opinião. Não se aprende nada, é só engates, pastilhanços, droga a passar de mão em mão, musica que fode os neuronios a um gajo...enfim... é apenas a minha opinião, eu não aguentava... Para quem aguenta e se sente bem... Não tenho nada contra e respeito... Só exijo que me respeitem a mim também.
5 – Achas que a cena HardCore está a tomar uma má direcção?, tipo as pessoas pensam que HardCore é musica, e esquecem-se de tudo o resto à volta.
A cena hardcore em si não está a tomar uma má direcção... as pessoas que a constituem é que talvez sim. Sei que parece que vai dar ao mesmo mas não...
Tu ainda tens bandas como NEW WINDS, LAST HOPE e SIMBIOSE (cada uma na sua vertente) que duram à anos, sempre com os mesmos ideais e a acreditar no que fazem. Muitas delas quase que não têm 1 elemento da formação original e ainda tocam porque acreditam no que fazem. Nesse sentido penso que o hardcore tem a mesma direcção, a mesma força de sempre. Cada vez há mais bandas e o movimento tende a crescer... é pena que da parte do publico isso não aconteça.
Ainda há quem pense que o hardcore nacional é MATA-RATOS e TARA PERDIDA e que o internacional é HATEBREED e TERROR quando passa para lá disso tudo. Ou nunca ouviste dizer que LINKIN PARK é uma mistura de hardcore com hip-hop? Eu acho absurdo mas ainda há quem pense assim...
A meu ver as bandas têm a mesma força de sempre e acreditam nas mesmas merdas de 1995 (tirando um conceito ou outro que possa ter sido alterado) sói que o publico que vai aos concertos não está preparado para as mesmas filosofias e 'secas' de à 10 anos atrás... Temos os 'putos novos' a querer foder-se no pit, a querer ouvir a banda mais pesada com a sua t-shirt de SICK OF IT ALL (de onde só conhecem do LIFE ON THE ROPES para a frente) e a tentar não compreender o movimento. Depois temos os mais 'velhos' na cena que gostavam de poder estar em cima do palco a partilhar o microfone com a banda mas que infelizmente não passam do 'encosto na parede lá do fundo' pelo facto de esses mesmos putos não perceberem o que é o 'hardcore em si'. Faz sentido cantar a 'NEW DIRECTION' de Gorilla Biscuits nestas condiçoes?
Onde é que hoje em dia se vê pessoal a falar entre as musicas? Tipo... falar ainda falam mas será com a mesma convicção de à uns anos atrás? Tenho as minhas duvidas...
Ah...e depois há aqueles que se dizem 'do hardcore' e só conhecem as bandas que vêm a Portugal ou as que estão 'na moda'. Agora anda tudo a ouvir CHAMPION (e eu não tenho problemas de dizer que sou um exemplo disso) e COMEBACK KID, dizem que sao as melhores bandas de hardcore, porque vieram dar um grande show ao nosso país, mas no entanto nomes como VITAMIN X, MAINSTRIKE, REACHING FORWARD, CORNERSTONE (e muitas outras) passam-lhes ao lado.
Há ainda muito por pesquisar, muito para aprender, falta sensibilizar as pessoas... mas ninguém o faz... aliás... ninguém quer fazer, nem sensibilizar nem ser sensibilizado...
É esta a 'má direcção' de que tanto falas...
6 - Hm, agora mudando, com a I CAN C U, pretendes apenas musica ou tens mais cenas pensadas?
A I CAN C U não é só musica, aliás... nem tem a ver com a musica em si.
Eu curto tantas bandas que nem meto a tocar ao vivo por não 'apoiar' a sua mensagem... Mas também admito que já organizei shows com bandas de mensagens às quais não apoio... Bem sei disso...
A I CAN C U, assim como o ANYMAIS, é uma forma de eu me exprimir da melhor forma que posso e consigo fazer. Não directamente mas indirectamente... Isto é.. Eu não preciso de ir para cima de um palco falar quando posso meter bandas com maneiras de pensar e encarar a vida 'parecidas' com a minha, como por exemplo POINTING FINGER ou DAY OF THE DEAD, a falar 'por mim'. A I CAN C U passa para lá disso...
Era bom que tivessemos zines mensais e flyers para distribuir em concertos, era bom que houvesse ainda mais gente envolvida, que quisesse participar no blog, que quisesse ajudar a colar cartazes, divulgar os eventos, que quisesse trabalhar mais connosco...era bastante agradável essas situações acontecerem. Gostava de poder um dia saber que a I CAN C U organiza shows em Lisboa e eu não estar lá envolvido... Não sei se me percebes.
O hardcore não nasceu em Portugal, no entanto o movimento continua cá e onde 'nasceu' nem se imagina como vai a cena por estes lados. O mesmo acontece com o straight edge, veganismo, skin-heads, reggae, trash metal, EZLN, tudo... Tudo nasce num lado mas continua no outro. Tudo acontece por alguma razão.
Acho que a I CAN C U pode ir mais longe se todos quiserem contribuir. Melhor exemplo é o PUNK PT. Ainda me lembro quando o #punk no mirc eram só 2 ou 3 gatos pingados. Quando o site começou ninguém dava muito por ele e actualmente é um marco bastante importante para a 'cena hardcore' e não só. Hoje em dia é bem respeitado e é feito por todos os que participam no fórum, que deixam comentários, que deixam flyers, que respondem aos posts lá colocados... é esta a comunidade que deve existir... desde que não haja aqueles 'anónimos' que gostam de ir gastar o seu tráfego da ADSL que a mamã e o papá pagam a ir difamar os outros.
É bonito falar mal dos SHARPS e dos SKINS quando não se tem colhões para se aparecer num show sozinho e dizer-lhes isso na cara. É bom ter uma imagem no MSN com uma mão a esmagar uma suástica mas no entanto não se vai a um show de ideologia nazi com um casaco cheio de patches a dizer 'MORTE AOS NAZIS'. Aqui todos são livres de se exprimir desde que não interfiram com a liberdade dos outros e que não armem confusão. Na I CAN C U são respeitadas todas as ideologias, podem é não ser aceites, mas serão sempre compreendidas.
Tenho amigos de raça africana, mas tambem tenho amigos skins, tenho amigos da JSD e no entanto faço parte da JCP, tenho amigos straights e tenho amigos 'bebedos', amigos satanicos e amigos que vão à missa aos domingos a tarde, tenho amigos na Fuzeta e amigos em Faro, etc...
Era bom se se conseguisse conciliar tudo num unico espaço com o pessoal a aderir a todas as bandas... mas com a mentalidade portuguesa é bastante dificil. Eu dou-me bem com toda a gente, tenho mente-aberta, é pena que nem todos sejam assim. Eu posso não aceitar uma ideologia que me tentem impingir mas não deixo de respeitar e compreender esse ponto de vista... vivemos numa sociedade livre de expressão (quero eu acreditar que sim), não???
7- Sim, respeito acima de tudo. Já que tocas nisso, imaginemos um cenário de tourada, achas que as pessoas que as vivem e etc, merecem respeito? por um lado não estão a fazer mal nenhum porque a cena nas cabeças deles dizem que aquilo é "giro"; por outro lado estão a desrespeitar uma vida (que para eles é como se não existisse). Qual é a tua opinião/atitude em relação a isso quando só a sensibilização é quase ineficaz?
Sim, tens razão, no caso da tourada a sensibilização é quase ineficaz. Pouco mais há a fazer.. É daquelas coisas que por muito que faças e espalhes a mensagem , pouco poderá mudar.
Mas não vamos desistir só por isso... Cada vez há menos apoiantes desta tortura e tradição, cada vez há menos gente a pactuar com isto e eu até tinha fé que um dia fosse um 'negócio' em vias de extinção mas isso parece não acontecer...
Quanto a mim, em releção à tourada há apenas 3 coisas a dizer:
a) a tourada não consiste apenas na tortura praticada ao animal durante o 'espectáculo'; é uma tortura que começa muito antes quando o touro é 'alimentado' para esse espectáculo de sangue que só é iniciado perante o publico muito tempo depois;
b) não é uma 'luta' de vegetarianos e veganistas; eu como carne e não posso suportar o sofrimento de um animal desta forma; sei que a carne que eu como também provém do sofrimento de outro animal mas utilizar um ser que se mexe e respira como nós para 'animar a malta' é algo que eu não consigo suportar;
c) pactuar com a tourada é o mesmo que uma pessoa afirmar-se como contra a guerra e ficar indiferente com a tortura praticada 'ao vivo' perante os canais de televisão onde são queimados soldados, chicoteados, feridos, para sensibilizar o mundo (NEGATIVAMENTE!) que não deveriam ter entrado nesse jogo capitalista para atingir fins que não lhes pertencem;
Mas, fugindo um pouco à questão da tourada, isso até é bom... porque quando uma pessoa vai para uma guerra para 'defender a pátria' sabe que não pode voltar mas ao mesmo tempo via participar num nível de um jogo onde o dinheiro comanda as operações... e o sofrimento que é praticado ao vivo perante a TV é uma boa forma de mostrar ao mundo que tudo o que tem inicio também tem fim... tu podes tirar a vida a 150 pessoas mas alguém há-de tirar a tua... são poucos os que saem impunes... Regressando à questão da tourada a única solução será mesmo a de se fazer manifestações à porta das arenas mas o mal é que somos tão poucos (seremos?) contra esta tradição que por vezes nem dá para 'tocar' em ninguém... Falta agir mais e falar menos... só que em Portugal somos do tipo 'come e cala', criticam o aumento dos impostos, a subida da gasolina, as propinas, etc, mas quando é para se fazer 1 manifestação tens 50 pessoas na rua a lutar por direitos de 10 milhões... não chega... resultava mais quando fossem 10 milhões a lutar por direitos de 50... é assim que as coisas deveriam funcionar... Não podemos agir apenas quando algo que nos atinge não está certo... temos de pensar universal e globalmente e deixar de ser egocêntricos quando o mal não nos atinge. Ver guerra pela televisão pode ser actual mas não por muito tempo; não basta ter 'pena' das bombas que rebentam em Londres e 'saber' que jamais acontecerá em Portugal; não vamos agir apenas quando essa realidade nos atingir; o que acontece aos outros também nos deveria 'atingir', deveríamos ser mais 'activos' neste sentido e tentar mudar as coisas que acontecem aos outros antes de acontecer a nós... mas ir para a guerra não é solução, a solução é mesmo ACABAR COM ELA!!!
Desculpa se fugi um pouco à questão...
8 - De volta à I CAN C U, tens ideias de “expansão” da cena?
A melhor maneia de 'nos' expandirmos é nunca ficar parados e nunca trair os nossos ideais... Organizar shows, participar no maximo numero de eventos, estar ligado a sites como o GRITA, PUNK PT e DIRTY HOUSE, que fazem bastante pela cena...
Quero promover o máximo numero de bandas mas infelizmente o ano só tem 365 dias e todos os dias surgem bandas novas que curtia meter a tocar em cima de um palco... Mas a I CAN C U vai andando fixe...
Como já referi...em 3 meses organizamos 3 concertos e alguns com bandas 'bastante conhecidas' como Punk-Kecas, Mindlock, Ho-Chi Minh, For The Glory, Twenty Inch Burial, RJA, etc etc etc... Para além disso editamos o split cd (formato cd-r, nada de mais) de (the) Highest Cost com Payasos Dopados e agora vamos editar numa parceria com a DOPAMINA RECORDS de Espanha uma compilação com 10 bandas nacionais... 5 do Algarve e 5 de fora... Vai ser interessante poder 'ligar' mais o sul do país ao resto de Portugal...
Temos organizado um festival de dois dias, o 2 SIDES FEST e a proxima edição vai contar com 3 dias e com algumas bandas de 'nome' em Portugal...
Enfim...fazemos o melhor que podemos e orgulhamo-nos disso... A evolução depende de todos os que quiserem participar e eu sei que a bem ou a mal ainda há uns quantos a ter orgulho em entrar na cena. Tenho apoio do Ludgero que costuma fazer o jantar para as bandas (e cozinha pa caralho), o apoio do David (Get Lost e Pointing Finger) que por vezes desenrasca-me na bilheteira, pessoal como a Andreia, o Vice, o Cláudio e o Armindo, que me ajudam a colar cartazes (entre muitos outros), o Samuel que por vezes empresta material de som sem pedir nada em troca, enfim...
Como vês, a I CAN C U posso ser eu sozinho a erguer mas conto com o apoio de muita gente (muitos deles nem aperecem na lista acima) que me ajudam nesta 'luta' que tanto prazer me dá... Sei que um dia deixarei de ter oportunidade de fazer pela cena porque todos envelhecemos, amadurecemos, perdemos a vontade, mas ainda tenho 23 anos e sei que ainda tenho uns bons largos anos pela frente para fazer aquilo que gosto... APOIAR A CENA HARDCORE NACIONAL DA MELHOR FORMA QUE POSSO...
9- Achas que perder a vontade é amadurecer ou é começar a morrer? Que sentimento te preenche quando pensas em perder o “espírito jovem”?
Ora bem... Quando falo em perder a vontade é num ponto de vista metafórico... Perder a vontade nunca se perde (pelo menos eu), surgem é outras prioridades que nos ocupam o tempo.
Eu estive 2 anos sem estudar e trabalhar (à 3 anos atràs), era normal que nessa altura tivesse 4 bandas a que me dedicasse a 100%, organizava shows com mais frequência e colava cartazes pelo Algarve todo se fosse necessário.
Entretanto começo a estudar a noite, arranjo trabalho (8 h por dia), 'fundo' a I CAN C U, ligo-me à Associação de Músicos e ao Satori, enfim... A vida de uma pessoa muda. Entrar no trabalho às 8h, sair as 17h, ter 3 horas para fazer as minhas cenas, jantar às 20h, às 21h30 ter ensaios e colar cartazes das 23h30 às 01h para no dia seguinte entrar novamente às 8h...é muito puxado, meu. Mas é como dizem, 'cavalo que corre por gosto não cansa'.
Ok, pode não cansar mas pode correr mais devagar para aguentar a pedalada...
Agora imagina um gajo que se junte com uma xavala, tenha um filho, esteja a pagar casa, etc. Achas que tem a mesma força que eu? Primeiro a família, depois o trabalho, depois a sua 'força de vontade'. Um gajo ter de alimentar uma criança e estar a pagar casa não tem a mesma força nem vontade de 'dispender' guita como eu... há outras prioridades na sua vida. Eu cá me aguento porque ainda sou 'solteiro e bom rapaz' mas um dia isto tudo vai mudar e é por isso que quero aproveitar ao máximo.
Não considero perder a vontade como amadurecer nem começar a morrer... isso depende do ponto de vista.
Amadurecer só se for num sentido que na tua vida começas a ter mais responsabilidades e tudo muda à tua volta; começar a morrer só se tu perderes a vontade a 100% de fazer algo pela cena. Quantas vezes já eu não disse que 'estava farto' desta vida e que queria deixar tudo para trás? Mas achas que consigo? Não sei fazer mais nada meu... Não tenho mais nenhuma paixão. A mim custa-me ter 23 anos e não ter 'tempo' para procurar uma gaja, não saio a noite, não ando por aí feito maluco... Mas a verdade é que já começo a sentir falta disso e não tenho problemas de o admitir, só que...enfim... a musica continha a ser a prioridade e é nisso que eu acredito.
Já agora quero aproveitar a oportunidade para deixar um agradecimento bastante especial aos POINTING FINGER por me terem 'ajudado' a ser o que sou hoje... Foram eles que me meteram no caminho da música, me mostraram o que era o straight edge (de certa forma sempre o fui mas não conhecia o seu significado...), me deram motivos para acreditar que há coisas fortes na vida às quais nos podemos agarrar e que nos podem completar interiormente. É graças a ver o David a organizar shows, o Rookie a falar de hardcore, as letras do 'Tubbus', o slamming e stage diving nos concertos, que um gajo aprender o seu significado...
Meu, o hardcore é das cenas mais belas a que estive ligado, pode ter os seus podres como tudo neste mundo mas é um feeling inexplicável. É um feeling de entreajuda que não vejo em mais lado nenhum. Sem querer rebaixar as outras vertentes musicais... mas... tu vês festivais de Metal D.I.Y.? Vês festivais de Rock D.I.Y.? Eu vejo muito raramente, as pessoas parece que não têm força para se erguer... Esperam por um contrato discográfico, manager, tours, vendas, etc...
No HC não, é rara a banda que tem um cachet fixo (só aqueles já com algum nome e alguns anos nesta merda), não vês bandas com managers e as tours são organizadas por elas mesmas, o que faz a cena ter bastante significado. Mexem-se, suam e a vida tem mais valor assim... Trocam-se demos e cd's pelo mundo, vai-se tocar lá fora e traz-se bandas cá...
Meu, sinceramente, só vejo isso no HARDCORE...
10 - Sim, há coisas boas na vida, que fazem falta, mas não tens de seguir um padrão definido pela sociedade! O tempo é teu, dedica-o ao que quiseres como quiseres! Acima de tudo a satisfação pessoal, e as coisas sem dificuldades nunca tem a mesma piada! Ahaha! O hardcore é algo positivo, que nos ajuda a sentir bem, especialmente quando se concilia com um bom grupo de amigos, é altruísmo também, é assim que eu o vejo! Andar nessas andanças sozinho por vezes custa..Outra cena, eu oiço vários tipos de música (música, por MAIS algo que seja, não deixa de ser música), muito pessoal não vai aos concertos simplesmente porque a musica não lhes agrada, mesmo que se interessem a sério por muitos dos temas. Não achas que a cena é um pouco fechada musicalmente? Podiam falar das mesmas coisas, mas de outras formas (outros estilos musicais), só ia ajudar à consciencialização das pessoas “de fora à cena”. Não achas que deviam haver mais preocupações com a forma como se passa a mensagem? Ou é a necessidade que as pessoas têm de se afirmar como sendo isto ou aquilo? (“ai eu sou do hardcore, tudo o que me apetecer falar tem de ser desta forma”).Porque eu acho que o importante é a mensagem que se quer fazer passar, não temos de andar com isto e aquilo quando queremos que as pessoas saibam algo, a ideia é manter o espírito e fazer passar da forma mais receptível!Que dizes sobre isto?
Concordo com tudo o que disseste. Sei que sou bastante repetitivo nas minhas respostas e ideias mas volto à historia das zines... É necessario a informação sair da net (não é vida pra ninguem) e chegar ao papel... Tu com um papel na mão és praticamente obrigado a ler, na net só procuras o que queres. Na net só se fazem downloads de MP3's, so se procura roupa, só se vê as agendas de concertos... ninguém procura ler as letras nem a mensagem das bandas... é estranho.
Tu hoje em dia criticas por criticar, porque tens necessidade de o fazer, porque todos o fazem e se não o fizeres não fazes parte da 'cena', porque é inteligente criticar. O pior é quando criticas e não sabes o que dizes.
Fui bastante 'atacado' por amigos porque escrevi uma letra para (the) HIGHEST COST a dizer 'The vote we give, the more you live' e às tantas aderi à JUVENTUDE COMUNISTA PORTUGUESA. Enfim... Terei eu 'apunhalado' os meus ideais? Eu não vejo assim. Simplesmente sinto algo que em inglês é qualquer coisa do tipo 'bite the bullet'. Por vezes temos de fazer certas cenas para atingir os nossos objectivos. A anarquia poderia resultar mas... enquanto não há, não há que ficar parado. Se estou contra algo tenho de me aliar ao oposto, na minha sincera e humilde opinião... Se estou contra uma ideologia é sinal que estou noutro barco e tenho de remar para chegar primeiro ao porto. O facto de ter aderido à JCP não significa ser comunista ou querer ser deputado do PCP como muitos dizem, significa apenas uma forma de estar contra aquilo que não acredito ou que acredito não resultar. Percebes onde quero chegar?
Estou consciente do que escrevi tanto quanto estou consciente do que fiz... Tenho 23 anos, sei da minha vida e sei bem o que quero. Para quem ainda não me compreende comprem o dvd BATTLE OF MEXICO CITY de Rage Against The Machine e em vez de irem logo para o menu PLAY CONCERT passem pelos extras (se estão lá é porque também interessam) e experimentem ouvir o documentário e palavras proferidas pelo SubComandante Marcos do EZLN no México e o que ele diz sobre a forma como as pessoas encaram, comem e calam, o que o estado lhes 'oferece'.
Em relação à musica... Sim, penso que a mensagem deveria passar por outros tipos de musica só que infelizmente quem está fora do hardcore geralmente nem quer saber o que se passa 'por cá'.
Isto é, o pessoal do hip-hop também critica o estado, a politica, os ministros, de certa forma a mensagem è a mesma do punk mas noutra perspectiva, mas no entanto criticam e fodem os concertos de hardcore. O mesmo acontece com os 'de cá' que criticam o hip-hop. Todos juntos seriamos uma força muito maior.
Isto é uma prova de que as letras não interessam, só o estilo. Só o andar vestido de preto, os cincos com bicos ou o boné pó lado e calças arregaçadas... é uma BELA MERDA esta divisão toda...
Pior ainda é quando há guerras entre pessoal 'da mesma cena'.
As guerras começam na tua própria cidade; vês amigos a lutar entre si quando deveriam unir-se e lutar contra os de fora. Vês a MARGEM NORTE contra a MARGEM SUL quando poderiam estar unidos e lutar com os de fora novamente... Se fossemos lutando contra os que estão mais longe poderiamos unir-nos ainda mais... até ao ponto de acabarmos por nos unir com esses mesmos de fora e às tantas a cena ser tão sincera como era dantes... Não é havendo lutas entre estilos de musica que se vai a algum lado, podes ter a certeza. Fora de brincadeiras, até curtia ver uma banda PIMBA com uma mensagem política... quem sabe se não será um dos meus proximos projectos?? Quem sabe?!??! Acredita que iria atingir um publico bastante mais diverso do que os 20 amigos que me seguem em todos os shows que dou...
Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!!!!!!!! Já estáaaaaaaaa!!!!!!!!!!!! Tóbrigado sô Rafael! Sô publico, espero que consigam aprender alguma coisa e tirar boas informações acerca da [I CAN C U] daqui! Ora então boa tarde e até a próxima!GRITA! (www.GRITA.pt.vu)
Obrigado a ti... GRITA enquanto podes!
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